10 abril, 2011

Falidos

FALIDOS

Aconteceu o que tinha que acontecer: após anos de incompetência e irresponsabilidade política do Governo do PS, José Sócrates reconheceu o que já se sabia: ESTAMOS FALIDOS! Incapazes de assumir os nossos compromissos, leia-se, incapazes de pagar os desmandos governativos.

E agora José? Claro que José Sócrates dispara em todas as direcções menos na sua. Afinal, ele é Primeiro-Ministro há 6 anos, 4 dos quais com maioria absoluta. Afinal, ele LIMITOU-SE a desbaratar em 2 anos (2008 e 2009) o esforço feito pelos Portugueses em 5 anos (2002 a 2007) para reduzir o deficit, tudo supostamente em nome da crise internacional e tudo realmente em nome da vitória eleitoral em 2009.
 
Agora acenam-nos com a austeridade final. De Berlim a Washington, de Bruxelas a Frankfurt, de Helsínquia ao Luxemburgo, todos fazem o favor de nos ajudar…. espremendo-nos até ao tutano.

Como se esmagando os Portugueses e as empresas com impostos e mergulhando o país numa recessão profunda fosse resolver os nossos problemas!
 
Não sou economista, mas tenho opinião. Do meu ponto de vista, a solução para Portugal se libertar do garrote financeiro passa por diminuir drasticamente as despesas públicas e por renegociar a dívida.

A primeira, levaria à redução do deficit e à diminuição do peso do Estado na economia, cortando despesas supérfluas e outras que o Estado simplesmente não pode suportar. A segunda, permitiria uma redução da dívida para níveis sustentáveis para Portugal pagar, sem entrar numa espiral recessiva interminável.

A revista “Economist”, por exemplo, recomenda esta mesma receita a Portugal, Irlanda e Grécia, criticando fortemente a EU, o BCE e a Alemanha por se fixarem autisticamente no deficit:

"Portugal’s [...] credit rating was slashed to near-junk status on March 29th, while ten-year bond yields have risen above 8% as investors fear Portugal will have to turn to the European Union and the IMF for loans. The economies of both Greece and Ireland, Europe’s two “rescued” countries, are shrinking faster than expected, and bond yields, at almost 13% for Greece and over 10% for Ireland, remain stubbornly high. Investors plainly don’t believe the rescues will work.

They are right. These economies are on an unsustainable course, but not for lack of effort by their governments. Greece and Ireland have made heroic budget cuts. Greece is trying hard to free up its rigid economy. Portugal has lagged in scrapping stifling rules, but its fiscal tightening is bold. In all three places the outlook is darkening in large part because of mistakes made in Brussels, Frankfurt and Berlin.

At the EU’s insistence, the peripherals’ priority is to slash their budget deficits regardless of the consequences on growth. But as austerity drags down output, their enormous debts—expected to peak at 160% of GDP for Greece, 125% for Ireland and 100% for Portugal—look ever more unpayable, so bond yields stay high. The result is a downward spiral.

As if that were not enough, the European Central Bank in Frankfurt seems set on raising interest rates on April 7th, which will strengthen the euro and further undermine the peripherals’ efforts to become more competitive. Some politicians are still pushing daft demands, such as forcing Ireland to raise its corporate tax rate, which would block its best route to growth."
(in “The Economist”, They’re bust. Admit it. 31/03/11 at http://www.economist.com/node/18485985  )
 
Esta deveria ser a postura do Governo e dos partidos portugueses quando negociarem com o FMI e a EU: recusar as taxas draconianas que afundam as economias da Irlanda e da Grécia; fazer questão de, cumprindo os objectivos, reter capacidade de escolha da metodologia, evitando a aplicação mecânica das receitas habituais destas instituições; finalmente, apesar de estarmos falidos, não devem entrar nas negociações humildemente, com a corda ao pescoço, o chapéu na mão e a lágrima no olho, pois não é assim que conseguirão as melhores condições para o país.
 
Nesta altura estarão a pensar que sou um lírico. Talvez, mas penso que o devedor também em alguns trunfos que deve utilizar. Para a Alemanha, França, Espanha, Áustria e outros, não é indiferente Portugal pagar ou não pagar, aceitar um pacote de ajuda ou rejeitá-lo, não só porque têm cá dinheiro, mas porque temem que se cause danos ao euro.

Depois de tanta incompetência e gestão danosa, o mínimo que podemos exigir é que agora, finalmente, os nossos representantes tenham espinha e defendam o interesse nacional sem tibiezas.

6 comentários:

Sérgio Lira disse...

Uma vergonha. Uma vergonha total. Uma vergonha para o país, e para cada um de nós.

Eu nunca deixei de honrar um compromisso, eu nunca deixei de pagar o que me cabia, eu nunca contraí uma dívida que não pudesse pagar (e, dessas, apenas uma: para comprara uma casa; para nada, absolutamente nada, mais) e sempre paguei a tempo e horas, escrupulosamente, suadamente, cuidadosamente.

Eu nunca tive mais do que o que poderia pagar... um dia, acertava eu os detalhes finais da compra de um carro novo quando o vendedor me perguntou “Então, Sr. Doutor, como vai pagar?”; eu arregalei um bocadinho os olhos e respondi “Com um cheque, visado se preferir; com notas é que não há-se ser, não lhe parece?”; o homem estremeceu ligeiramente: “Mas o Sr. Doutor vai pagar a pronto?!?”; “Sim, claro...”; “Oh Sr. Doutor, então se tem esse dinheiro disponível não me vai levar este carro (era um Fiat Punto, com o maior motor da gama e já com direcção assistida e ar condicionado, o que eu achava à época três belos luxos) vai dar esse valor de entrada e temos aí muito boas opções para uns veículos de outra qualidade...........” Não o deixei acabar a frase, fiz o homem poupar no latim: nunca me endividaria por causa de um carro – nunca o fiz (o primeiro que comprei foi em enésima mão, custou 150 contos mas foi meu a partir desse momento) e nunca o farei. Nem por um fato Armani, ou por umas férias num loca de nome impronunciável, ou por uma televisão gigantesca, ou por um iate - mesmo dos pequenos.

Mas Portugal fez isso tudo, isso e muito pior: encheu os bolsos de muitos malandros, de facínoras da pior espécie, de arrivistas vindos das berças deslumbrados num novo-riquismo sem limites, de espertalhões sem escrúpulos que delapidaram a coisa pública até ao tutano, de políticos desonestos ou estúpidos que se rodearam de troupes de malfeitores e que sanguessugaram o país até ao limite.

E o limite está aqui: não conseguimos honrar os nosso compromissos. Mas o pior é que se ainda há quem tenha essa réstia de brio nacional de achar que devemos fazer o que for possível para pagar o que por nós gastaram... há toda uma geração (a do meu filho) que não o fará – que não quer pagar pelos desmandos da nossa geração e que acha (provavelmente com razão) que não tem nenhum compromisso para com esses 170 mil milhões com que alguns se alambazaram em nosso nome. E vai-se embora: vai vender o que tem de melhor (a inteligência e a capacidade de trabalho) a quem a merecer – longe desta choldra.

O último de nós, velho, caquético, sem reforma e sem saúde, que apague a luz antes de morrer. Se ainda não tiver sido cortada pela EnBW (ou outra qualquer).

Anónimo disse...

Temos uma solução: contratar um empréstimo, saber o que temos e quando a pagar, e depois cortar na despesa. A partir daí apenas temos de saber fazer as escolhas sobre aquilo em que vamos cortar. Pode ser que após 37 anos, comecemos da forma mais dura, a aprender. Todas as outras são "não soluções"!

Eduardo

Anónimo disse...

Li com a atenção o teu blog ("Falidos") e, apesar de não seres economista, percebes mais que alguns que para lá andam.

A economia de um País em pouco difere da das nossas casas ou das nossas empresas. Se há deficit é preciso saber onde cortar despesa, renegociar dívida (se possível) e claro não há dinheiro não há investimento. A fórmula é simples aplico-a todos os dias nas "minhas" empresas, mas claro não estou comprometida com nada.... não preciso de fazer obras, nem empregar (diferente de dar trabalho) a incompetentes.

Paula Susana

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sérgio,

DEMOLIDOR, verdadeiro e do mais elementar bom senso: não se gasta o que não se tem e não se rouba o que é dos outros e só foi entregue a alguns para gerirem bem o que é de todos!!!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Eduardo,

Tudo o que seja não aumentar os encargos (impostos) sobre os cidadãos, que seja redução de despesa e que seja gestão decente do erário público, é bom!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Paula Susana,

Agradeço a amabilidade, mais a mais vinda de uma economista.

No fundo todos os comentários convergem: é necessário bom senso, competência e HONESTIDADE!