20 abril, 2011

Desunião Europeia

DESUNIÃO EUROPEIA

in “The Economist

Enquanto que as lideranças dos estados europeus estavam entretidas a forçar o Tratado de Lisboa aos seus cidadãos, o mundo ia girando, as crises germinando, ocorrendo, algumas explodindo e a EU distraída com o seu umbigo.


Digerido o atentado à democracia, a União Europeia acordou para a realidade de uma Europa em crise e de um mundo também ele em crise e em mudança. Não surpreendentemente, o edifício mostrou rapidamente as suas fracturas, à medida que vários países iam fazendo pela vida.
 
E assim, 2010 na Desunião Europeia, fica marcado pelos Diktat alemães à Grécia e Irlanda (Portugal ficou para 2010). É, aliás, curioso analisar um pouco a retórica e a acção da Alemanha.
 
1- A Alemanha, por um lado, não quer pôr dinheiro na mesa para salvar as finanças dos Estados em apuros.

2- Por outro lado, Berlim distribui críticas e ameaças aos Estados com as finanças em desarranjo.

3- Pelo caminho, a Alemanha, decide avançar com os financiamentos, facto a que a exposição dos bancos alemães que concederam agrandes créditos a todos estes países não serão alheios.

4- Finalmente, a Alemanha lucra com os empréstimos, que são feitos a uma taxa simpática.
 
O desbaratado pelotão do euro.
in “The Economist”

Já em 2011, as atenções focam-se na Líbia e, ainda, na crise financeira.
Em relação à Líbia, a Desunião Europeia ficou bem patente. A França tomou a iniciativa de promover a causa da intervenção militar, no que foi rapidamente acompanhada pelo Reino Unido. Ambos, conseguiram levar os EUA a apoiar a intervenção e a liderá-la na sua fase inicial. Contudo, a Alemanha não esteve disponível para participar, nem sequer votando a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU. A Itália acabou por aderir porque é O país europeu mais próximo da Líbia, geograficamente, economicamente e historicamente, mas vários Estados–Membros participa apenas na estrita imposição da no-fly zone, outros estão contra ou reticentes e ainda outros, estão amorfos.

Se no plano político-militar é Paris e Londres quem tem as rédeas e o comando, já do ponto de vista da imigração do Norte de África é a Itália quem está no (indesejável) centro das atenções. Também nesta área, a Desunião Europeia e a falta de solidariedade são patentes: a França recusou o pedido de apoio da Itália na absorção da vaga de imigrantes magrebinos e um Ministro Alemão declarou que era um problema italiano e ainda criticou Roma por adulterar as regras de Schengen.
Finalmente, veio de Helsínquia o mais recente sinal de falta de solidariedade e de Desunião: na Finlândia, a recusa do apoio financeiro a Portugal foi um trunfo eleitoral importante. Ainda no plano da cise orçamental e da dívida, muitas foram e são as críticas, avisos, conselhos, instruções e ameaças vindas de várias proveniências (Áustria, Holanda, Luxemburgo) para vários destinatários (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha).

Não é novidade para mim que, especialmente em tempos de crise, os interesses nacionais (para alguns, os egoísmos nacionais) vêm ao de cima. No entanto, o último ano prova que o pulsar nacionalista, mesmo que frequentemente amarfanhado, está bem vivo na Europa. E assim vai a Desunião Europeia.

2 comentários:

PVM disse...

Trata-se mesmo de egoísmos nacionais. Nada tem a ver com pulsões nacionalistas (excepção feita aos folclóricos da extrema-direita finlandesa). Não diria, todavia, que esta é a "Desunião Europeia". É uma UE que, num momento crítico da sua história, sucumbiu perante os interesses dos (principais) países. Não é novidade. Faz parte do seu (União Europeia - sublinho: União) código genético.

Rui Miguel Ribeiro disse...

O interesse nacional é, por natureza egoísta. Do mesmo modo, muitas decisões da UE reflectem o interesse de alguns países e não do todo. Já se sabe que, quando as coisas apertam, o diferencial entre os interesses dominantes e o interesse geral (??) aumenta.

O título do post é um jogo de palavras que reflecte o que se passa NESTE momento na UE. Porém, também acho que os momentos de DE que vivemos há mais de um ano, vão abrindo feridas e ressentimentos entre os Estados-Membros.