22 abril, 2011

Santa Páscoa


SANTA PÁSCOA

REMBRANDT – Christ: The Raising of the Cross (1633) – Alte Pinakothek, Munich


Numa época em que o sacrifício de Jesus Cristo é seguido de renovada fé e esperança, bem necessárias em tempos de descrença, desejo a todos os leitores e frequentadores do “Tempos Interessantes” uma Santa Páscoa.
                   Rui Miguel Ribeiro

20 abril, 2011

Desunião Europeia

DESUNIÃO EUROPEIA

in “The Economist

Enquanto que as lideranças dos estados europeus estavam entretidas a forçar o Tratado de Lisboa aos seus cidadãos, o mundo ia girando, as crises germinando, ocorrendo, algumas explodindo e a EU distraída com o seu umbigo.


Digerido o atentado à democracia, a União Europeia acordou para a realidade de uma Europa em crise e de um mundo também ele em crise e em mudança. Não surpreendentemente, o edifício mostrou rapidamente as suas fracturas, à medida que vários países iam fazendo pela vida.
 
E assim, 2010 na Desunião Europeia, fica marcado pelos Diktat alemães à Grécia e Irlanda (Portugal ficou para 2010). É, aliás, curioso analisar um pouco a retórica e a acção da Alemanha.
 
1- A Alemanha, por um lado, não quer pôr dinheiro na mesa para salvar as finanças dos Estados em apuros.

2- Por outro lado, Berlim distribui críticas e ameaças aos Estados com as finanças em desarranjo.

3- Pelo caminho, a Alemanha, decide avançar com os financiamentos, facto a que a exposição dos bancos alemães que concederam agrandes créditos a todos estes países não serão alheios.

4- Finalmente, a Alemanha lucra com os empréstimos, que são feitos a uma taxa simpática.
 
O desbaratado pelotão do euro.
in “The Economist”

Já em 2011, as atenções focam-se na Líbia e, ainda, na crise financeira.
Em relação à Líbia, a Desunião Europeia ficou bem patente. A França tomou a iniciativa de promover a causa da intervenção militar, no que foi rapidamente acompanhada pelo Reino Unido. Ambos, conseguiram levar os EUA a apoiar a intervenção e a liderá-la na sua fase inicial. Contudo, a Alemanha não esteve disponível para participar, nem sequer votando a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU. A Itália acabou por aderir porque é O país europeu mais próximo da Líbia, geograficamente, economicamente e historicamente, mas vários Estados–Membros participa apenas na estrita imposição da no-fly zone, outros estão contra ou reticentes e ainda outros, estão amorfos.

Se no plano político-militar é Paris e Londres quem tem as rédeas e o comando, já do ponto de vista da imigração do Norte de África é a Itália quem está no (indesejável) centro das atenções. Também nesta área, a Desunião Europeia e a falta de solidariedade são patentes: a França recusou o pedido de apoio da Itália na absorção da vaga de imigrantes magrebinos e um Ministro Alemão declarou que era um problema italiano e ainda criticou Roma por adulterar as regras de Schengen.
Finalmente, veio de Helsínquia o mais recente sinal de falta de solidariedade e de Desunião: na Finlândia, a recusa do apoio financeiro a Portugal foi um trunfo eleitoral importante. Ainda no plano da cise orçamental e da dívida, muitas foram e são as críticas, avisos, conselhos, instruções e ameaças vindas de várias proveniências (Áustria, Holanda, Luxemburgo) para vários destinatários (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha).

Não é novidade para mim que, especialmente em tempos de crise, os interesses nacionais (para alguns, os egoísmos nacionais) vêm ao de cima. No entanto, o último ano prova que o pulsar nacionalista, mesmo que frequentemente amarfanhado, está bem vivo na Europa. E assim vai a Desunião Europeia.

19 abril, 2011

Os Verdadeiros Finlandeses

OS VERDADEIROS FINLANDESES
 


No passado Domingo, na TVI, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa manifestava a sua perplexidade, incompreensão e até repulsa relativamente aos Finlandeses. Tudo porque os Finlandeses acabavam de dar uma forte votação ao Partido True Finns (Verdadeiros Finlandeses), que Marcelo reputa de nacionalista (porque tem uma visão soberanista sobre a Finlândia e é eurocéptico) e xenófobo (porque é contra a imigração). Esta votação, num país com elevadíssimos índices educativos e sócio-culturais é incompreensível para Marcelo Rebelo de Sousa.

Eu não partilho da perplexidade, nem da repulsa. O que me causa perplexidade é que o Professor Marcelo não repudie que o facto de uma amálgama de partidos totalitários de origens stalinistas, trotskistas, maoístas, encabeçados pelo PCP e pelo BE, obter votações conjuntas na ordem dos 20% em Portugal.
Regressando à Finlândia. Qual é o problema de votar num partido nacionalista? Não podem os Finlandeses escolher um partido que acham que defenderá de forma mais firme o interesse nacional da Finlândia? É uma vergonha, na hora do voto, pôr o seu país à frente de outras considerações? A resposta às 3 perguntas é, respectivamente: nenhum; sim; e não.

O nacionalismo não tem que revestir a forma extremada, totalitária, militarista e agressiva da década de 1930. Bem pior do que o nacionalismo é a tentativa de impor o pensamento único da supra-nacionalidade

Relativamente à imigração, há que distinguir duas situações: uma, é perseguir, discriminar, prejudicar ilegitimamente os imigrantes que residem num país e nele se integram legalmente e que contribuem honestamente para o bem-estar colectivo. É inaceitável. Outra, bem diferente, é não querer mais imigrantes, ou pretender diminuir o seu fluxo. Parece-me que tal opção cabe no poder soberano dos Estados e não prejudica ilegitimamente ninguém. Cada um recebe em sua casa quem quer e quem pode.

É evidente que as eleições na Finlândia suscitaram um interesse inusitado em Portugal por causa das negociações do pacote de financiamento para Portugal. Mesmo aí, parece-me natural que haja Finlandeses que torçam o nariz a financiar os países falidos da Europa, quando a sua gestão das finanças públicas é competente. Exactamente do mesmo modo que me pareceu desajustado Portugal estar a contribuir para o bailout da Grécia e da Irlanda quando já estava com a corda no pescoço.

Aliás, considerando a tendência algo agiotária dos empréstimos europeus, se Helsínquia fizesse descarrilar o apoio europeu, talvez Lisboa se saísse melhor só com financiamento do FMI.

Comparativo dos resultados eleitorais na Finlândia em 2007 e 2011.



Voltando à Finlândia, os resultados dos Verdadeiros Finlandeses (3º lugar com 19% dos votos e 39 deputados), é mais uma demonstração da gradual falência das propostas e políticas dos partidos do mainstream, cada vez mais percepcionados como sendo iguais. Então quando esses partidos substituem a alternância pela partilha do poder (como alguns querem fazer em Portugal), está definitivamente aberto o caminho do sucesso eleitoral a partidos realmente alternativos. Parece que os (verdadeiros) Finlandeses se estão a saturar do rumo que a coisa pública vem levando.

12 abril, 2011

Um Nobre Vil e um Coelho Desastrado


UM NOBRE VIL E 
UM COELHO DESASTRADO


Já com o post anterior (“Passos em Falso e Passos Correctos” at http://tempos-interessantes.blogspot.com/2011/04/passos-em-falso-passos-correctos.html) escrito, soube que Passo Coelho convidou Fernando Nobre para cabeça de lista do PSD por Lisboa e para candidato a Presidente da Assembleia da República!!!

É espantoso! Passando por cima do inusitado convite para Presidente da AR sem os futuros Deputados estarem sequer eleitos, temos o velho oportunismo em acção:

* Nobre teve 500.000 votos nas Presidenciais com um discurso anti-partidário que deu frutos a todos os que concorriam à margem dos partidos. Nunca mais na vida valerá meio milhão de votos!

* O homem é de esquerda e não deve ter grande acolhimento no eleitorado do PSD e, pelo que já se vê, é visto como um traidor por muito do seu eleitorado.

* Fernando Nobre é um oportunista à procura de protagonismo fácil: primeiro foi instrumentalizado por Mário Soares para entalar Manuel Alegre e agora agarra-se ao super-tacho que Passos Coelho estouvadamente lhe oferece.

* Finalmente, Fernando Nobre não tem carácter:

"Não é por acaso que os altos detentores de cargos políticos deste país me têm contactado porque querem todos saber o que é que eu vou fazer. Eu tenho-os tranquilizado a todos. Partido político nem pensar, nunca. Não peço nada, nunca pedi. Por isso nunca aceitarei nenhum cargo partidário nem governativo. Está assente, determinado, não volto atrás."

Fernando Nobre em entrevista concedida a Mário Crespo na SIC Notícias no dia 1 de Março de 2011, a primeira após as presidenciais.

De Nobre tem o nome, bem mal empregue por sinal.

Quanto a Passos Coelho, entre declarações no sentido certo e opções desastradas, já nem sei o que dizer e o que pensar. O que sei é que o meu voto está mais longe…

11 abril, 2011

Passos em Falso & Passos Correctos

PASSOS EM FALSO &

PASSOS CORRECTOS

Pedro Passos Coelho percorre a parte mais difícil da sua caminhada para o poder. É aquela em que o poder parece dele para o agarrar, mas ainda não é. Um período em que a maioria das pessoas assume que ele irá ganhar, de tal modo que se o fizer será encarado com normalidade, se não o conseguir, será rotulado de rotundo fracasso. E, principalmente, o tempo em que a ânsia de dizer, de explicar e de fazer, frequentemente atropela a racionalidade de medir cada passo com prudência.

E assim, aos passos correctos sucedem-se aos passos em falso e vice-versa.
Os passos em falso

Passos Coelho disse que poderia aumentar o IVA, mesmo que contrafeito. Erro crasso. Quis salvaguardar essa possibilidade para não passar por mentiroso mais tarde. No estado em que está Portugal e em que vivem os Portugueses, não há tolerância para salvaguardas: se quer aumentar diga-o, se não quer, diga-o também. E, acima de tudo, cumpra. Com esta tergiversação, deu munições ao adversário, que não se fez rogado e o bombardeou com o IVA nos dias subsequentes e assim será até ao dia das eleições. Por tudo aquilo que tem dito nos últimos dois anos, Passo Coelho não pode aumentar os impostos. Passo em Falso.

Passos Coelho tentou desdramatizar uma eventual intervenção do FMI. Esta tem sido uma bandeira do Governo e com a qual há um certo grau de empatia da população, por uma questão de (uma réstea) de orgulho nacional e, principalmente, por razões pragmáticas: o receio de que o FMI possa impor medidas draconianas ao país e aos Portugueses. Tratar este assunto como se de uma questão menor se tratasse, foi outro Passo em Falso.

A insinuação de um mega-Bloco Central (PSD-PS-CDS) é algo de pavoroso. Só faltava reencaminhar para o Governo o principal fautor da crise aguda que vivemos. Não, não é apenas Sócrates, é também o PS. Penso que em vez de atrair votos, tal ideia vai espantar os votantes. Eu não voto em semelhante proposta. Grande passo em falso.

Finalmente, as múltiplas declarações de responsáveis e menos responsáveis dirigentes e militantes do PSD, todos querendo ter uma palavra a dizer sobre o que Passos Coelho deve fazer/não fazer e dizer/não dizer sobre todo e qualquer assunto. Tal cria muito ruído em volta do partido e do líder, fazendo chegar uma imagem confusa ao eleitorado. O PSD devia abster-se de fazer declarações sobre políticas específicas até à apresentação do programa eleitoral, para que o que passe para o povo português seja efectivamente o que se pretende fazer. De outro modo, quando o programa surgir, já as pessoas terão uma ideia (de)formada sobre os planos do PSD. Passos em Falso.

 Os passos correctos

As declarações que tem feito de forma consistente sobre a necessidade imperiosa de reformar o Estado, de reduzir o seu peso na sociedade portuguesa e de cortar fortemente na despesa pública, poupando os massacrados cidadãos. Conforme declarações do próprio, retiradas do “Diário de Notícias”:

“O que nós precisamos é que o Estado faça aquilo que os portugueses já têm vindo a fazer, que o Estado, ele próprio, faça austeridade.

Eu sou professor de economia e tenho uma noção muito clara do que é que o país hoje precisa. O país não precisa de mais promessas de impostos e de mais sacrifícios só porque o Estado não faz aquilo que deve. O Estado tem de diminuir as suas despesas, tem de racionalizar o sector empresarial e tem de dar esperança e mobilização ao país.

Se o Estado tivesse diminuído a sua despesa, os "impostos e sacrifícios teriam sido evitáveis." Passo Correcto.

A coragem que teve em chumbar o PEC IV, que vinha precisamente contrariar as suas declarações, imputando sobre os cidadãos, mais uma vez, o ónus de tapar o buraco sem fundo das contas públicas. Passo Correcto.


10 abril, 2011

Falidos

FALIDOS

Aconteceu o que tinha que acontecer: após anos de incompetência e irresponsabilidade política do Governo do PS, José Sócrates reconheceu o que já se sabia: ESTAMOS FALIDOS! Incapazes de assumir os nossos compromissos, leia-se, incapazes de pagar os desmandos governativos.

E agora José? Claro que José Sócrates dispara em todas as direcções menos na sua. Afinal, ele é Primeiro-Ministro há 6 anos, 4 dos quais com maioria absoluta. Afinal, ele LIMITOU-SE a desbaratar em 2 anos (2008 e 2009) o esforço feito pelos Portugueses em 5 anos (2002 a 2007) para reduzir o deficit, tudo supostamente em nome da crise internacional e tudo realmente em nome da vitória eleitoral em 2009.
 
Agora acenam-nos com a austeridade final. De Berlim a Washington, de Bruxelas a Frankfurt, de Helsínquia ao Luxemburgo, todos fazem o favor de nos ajudar…. espremendo-nos até ao tutano.

Como se esmagando os Portugueses e as empresas com impostos e mergulhando o país numa recessão profunda fosse resolver os nossos problemas!
 
Não sou economista, mas tenho opinião. Do meu ponto de vista, a solução para Portugal se libertar do garrote financeiro passa por diminuir drasticamente as despesas públicas e por renegociar a dívida.

A primeira, levaria à redução do deficit e à diminuição do peso do Estado na economia, cortando despesas supérfluas e outras que o Estado simplesmente não pode suportar. A segunda, permitiria uma redução da dívida para níveis sustentáveis para Portugal pagar, sem entrar numa espiral recessiva interminável.

A revista “Economist”, por exemplo, recomenda esta mesma receita a Portugal, Irlanda e Grécia, criticando fortemente a EU, o BCE e a Alemanha por se fixarem autisticamente no deficit:

"Portugal’s [...] credit rating was slashed to near-junk status on March 29th, while ten-year bond yields have risen above 8% as investors fear Portugal will have to turn to the European Union and the IMF for loans. The economies of both Greece and Ireland, Europe’s two “rescued” countries, are shrinking faster than expected, and bond yields, at almost 13% for Greece and over 10% for Ireland, remain stubbornly high. Investors plainly don’t believe the rescues will work.

They are right. These economies are on an unsustainable course, but not for lack of effort by their governments. Greece and Ireland have made heroic budget cuts. Greece is trying hard to free up its rigid economy. Portugal has lagged in scrapping stifling rules, but its fiscal tightening is bold. In all three places the outlook is darkening in large part because of mistakes made in Brussels, Frankfurt and Berlin.

At the EU’s insistence, the peripherals’ priority is to slash their budget deficits regardless of the consequences on growth. But as austerity drags down output, their enormous debts—expected to peak at 160% of GDP for Greece, 125% for Ireland and 100% for Portugal—look ever more unpayable, so bond yields stay high. The result is a downward spiral.

As if that were not enough, the European Central Bank in Frankfurt seems set on raising interest rates on April 7th, which will strengthen the euro and further undermine the peripherals’ efforts to become more competitive. Some politicians are still pushing daft demands, such as forcing Ireland to raise its corporate tax rate, which would block its best route to growth."
(in “The Economist”, They’re bust. Admit it. 31/03/11 at http://www.economist.com/node/18485985  )
 
Esta deveria ser a postura do Governo e dos partidos portugueses quando negociarem com o FMI e a EU: recusar as taxas draconianas que afundam as economias da Irlanda e da Grécia; fazer questão de, cumprindo os objectivos, reter capacidade de escolha da metodologia, evitando a aplicação mecânica das receitas habituais destas instituições; finalmente, apesar de estarmos falidos, não devem entrar nas negociações humildemente, com a corda ao pescoço, o chapéu na mão e a lágrima no olho, pois não é assim que conseguirão as melhores condições para o país.
 
Nesta altura estarão a pensar que sou um lírico. Talvez, mas penso que o devedor também em alguns trunfos que deve utilizar. Para a Alemanha, França, Espanha, Áustria e outros, não é indiferente Portugal pagar ou não pagar, aceitar um pacote de ajuda ou rejeitá-lo, não só porque têm cá dinheiro, mas porque temem que se cause danos ao euro.

Depois de tanta incompetência e gestão danosa, o mínimo que podemos exigir é que agora, finalmente, os nossos representantes tenham espinha e defendam o interesse nacional sem tibiezas.