ILUSÕES PERSAS
Nas eleições presidenciais iranianas, o Presidente cessante,
Mahmoud Ahmadinejad, conseguiu uma expressiva vitória com 63% dos votos,
esmagando a concorrência, deixando o segundo posicionado, Mir Hossein Moussavi
com 32% e os dois restantes com votações abaixo dos 2%.
Este resultado provocou surpresa e consternação no Ocidente,
esperançado que estava que um candidato dito reformador removesse do poder um
Presidente radical, beligerante, desbocado e perigoso.
A surpresa, a desilusão e as reacções, derivam de um conjunto de
ilusões fundadas mais em esperança e desejo do que em hard facts.
AS ILUSÕES PERSAS DO OCIDENTE
1- Os
Iranianos estão fartos de Ahmadinejad e dos Ayatollahs radicais que os governam
e, perante uma alternativa reformadora credível abraçá-la-ão entusiasmados. Na
verdade, muitos Iranianos de classe média urbana estarão saturados do
Presidente do Irão e das suas políticas externa (agressiva), económica
(ruinosa) e social (castradora), mas o populismo de Ahmadinejad, os generosos
subsídios e outras prebendas distribuídas pelo Presidente durante o boom
petrolífero garantiram-lhe vasto apoio nas camadas populares (maioritárias) e
nas províncias.
2- O
Irão está longe de ser uma democracia, apesar das eleições. A existência de um Líder Supremo não eleito com reais e
supremos poderes, o carácter teocrático do regime e as múltiplas interferências
dos ayatollahs, nomeadamente na triagem dos candidatos presidenciais, as
limitações às liberdades de expressão e de imprensa, são demonstrativos do
cariz não-democrático da dita república islâmica. Esperar que os detentores das
alavancas do poder abram mão dele de forma suave e conformada, é outra ilusão.
3- Mir
Hossein Moussavi é um liberal, moderado e reformador? Só com boa vontade se poderia
chegar a essa conclusão. Poder-se-á dizer que, comparado com Ahmadinejad,
qualquer um faz boa figura, mas Moussavi é, há 30 anos, parte do establishment
iraniano: protagonista do encerramento das universidades iranianas e de purgas
de professores na época da Revolução, Ministro dos Negócios Estrangeiros que
defendeu a internacionalização da revolução islâmica e Primeiro-Ministro na
altura do lançamento do programa nuclear do Irão. Ou seja, tal como com
Khatami, Presidente de 1997 a
2005, o mais que se poderia legitimamente esperar seria um abrandamento dos
aspectos mais agressivos e radicais da postura interna e externa do regime, mas
sempre dentro das estritas balizas estabelecidas pelo Ayatollah Ali Khamenei e
pelo Conselho dos Guardiões.
4-
Teerão reflecte o pulsar político do Irão. Não é assim e os resultados
eleitorais comprovam-no, mas é a realidade que os correspondentes ocidentais
conhecem e extrapolam-na para o país inteiro, o que cria outra ilusão.
5- As
eleições foram uma completa fraude. Francamente, não acredito. Aponta-se como
um indício de fraude o facto do Ministério do Interior ter proclamado
Ahmadinejad vencedor no dia seguinte às eleições, o que até não é surpreendente
se a margem de votos para Moussavi tiver sido tão grande, mas ninguém questiona
como Moussavi pôde reclamar vitória no próprio dia das eleições. Além do mais,
falsificar uma vitória por 13 milhões de votos, seria uma fraude de dimensões
épicas e, portanto, pouco provável.
Daqui não se pode deduzir alguma simpatia pelo regime de Qom,
perdão de Teerão, que é opressor do seu povo, retrógrado, belicoso e perigoso
para a estabilidade do Médio Oriente e para a segurança do mundo através do seu
programa nuclear. Ora, isto não é, bem pelo contrário, um país e uma situação
acerca dos quais se possa ter quaisquer ilusões, sob pena de se sofrer forte
desapontamento.