09 maio, 2006

O Neo-Iberismo

O NEO-IBERISMO

Pouco depois de o actual Governo tomar posse, o Primeiro-Ministro José Sócrates foi a Espanha e declarou que as prioridades da nossa política externa eram “Espanha, Espanha, e Espanha!” Só não fiquei aterrado porque pensei que tivesse sido algum chip que tivesse bloqueado.

Há poucos dias, o Ministro dos Transportes, Mário Lino, foi a Santiago de Compostela declarar que é um iberista. Não sei se os Galegos ficaram aterrados, mas devem ter tido vontade de lhe perguntar se queria trocar a sua (de Portugal) posição com a deles (da Galiza).

Agora fico a saber que o Ministro da Saúde divisou um plano pelo qual as crianças que até agora nasciam em Elvas, vão passar a nascer em Badajoz! Os Alentejanos devem estar mesmo aterrados.

Eu quero crer que o Governo de Portugal não está infestado de Miguéis de Vasconcelos, mas esta inusitada deriva iberista é estranha e preocupante. Não por causa de D. Afonso Henriques, Aljubarrota, Filipe II, ou Olivença, embora a História deva ser um factor a ponderar nas Relações Internacionais, mas porque:

* Se trata de um enviesamento da nossa política externa que poderá acarretar custos estratégicos a prazo – os nossos interesses são diversificados e não é racional nem prudente que a Espanha neles possa ocupar uma posição tão relevante.

* Lança uma suspeita sobre as motivações de um Ministro que lançou projectos faraónicos como a Ota ou o TGV, sabendo-se que aquele pode causar danos sérios à viabilidade do Aeroporto do Porto.

* Violenta um grupo de cidadãos portugueses na medida em que são coagidos a terem os filhos no estrangeiro. Eu sei que para alguns o nacionalismo e o patriotismo são conceitos ultrapassados, mas até ver Portugal é Portugal e Espanha é Espanha e a nacionalidade é um traço identificador, de pertença, de comunhão, que não conhece paralelo em qualquer outro. Negar aos Portugueses da região de Elvas o direito de nascerem em Portugal é vergonhoso e indigno de um Governo de Portugal.

As relações de Portugal com Espanha devem ser de cooperação e de amizade. O que vá para além disso e entra na intimidade excessiva, na submissão ou na dependência é um erro histórico. O iberismo nunca resultou em nada de bom para Portugal e não há nada que nos indique que tal seja diferente no início do século XXI.

4 comentários:

PVM disse...

Não vou alimentar mais a nossa discussão sobre nacionalismos. E até concordo que o ministrozinho da saúde, figura com óbvios tiques salazarentos, não tem razão na teimosia em matar maternidades em pequenas cidades.
Mas há uma pergunta que me atormenta: acaso os bébes nascidos em Badajoz deixam de ser portugueses?
PVM

Rui Miguel Ribeiro disse...

Não, embora isso dependa de o critério de atribuição de nacionalidade ser o do território ou o do sangue. No entanto, o relevante aqui é que as pessoas têm naturalmente laços afectivos à sua terra e é natural que queiram que os seus filhos lá nasçam. Sendo certo que não se pode ter uma maternidade em todos os concelhos, parece-me ser dos mais elementares deveres do Estado garantir que haja uma cobertura nacional deste tipo de serviços básicos. Convenhamos que não é a mesma coisa ir nascer a Espanha ou ir lá meter gasolina no automóvel. Entendo que os Portugueses têm o direito de nascer em Portugal.

Anónimo disse...

E se recolocasses a questão, desta vez com seriedade? Se o fizeres, respondo. Rosa

Rui Miguel Ribeiro disse...

Rosa,
Sete anos volvidos, passe a imodéstia, acho que o problema está colocado de forma séria, mesmo que com algum humor e ironia.
E, já agora, com carradas de razão.