ERROS DA GRÉCIA
Squeeze, squeeze till the end…..
in “The Washington Post” at www.washingtonpost.com/
Desde o início da crise que a Grécia cometeu vários
erros graves na sua estratégia (?) negocial com a troika, erros esses, diga-se,
comuns a outros países como Portugal.
O mais grave foi conformar-se com a ideia que o devedor falido
está desprovido de armas e argumentos para almejar mais do que aceitar
humildemente as condições impostas pelos credores. Tal não é verdade e entre
2010 e 2012 os trunfos da Grécia até eram bastante fortes e passavam, em última
instância, pela ameaça credível de um default.
Nessa altura, a exposição da banca estrangeira,
nomeadamente a alemã e a francesa, à dívida grega era substancial.
Simultaneamente, a pressão dos mercados sobre os juros das dívidas da Europa
Meridional e até da França e da Bélgica, era fortíssima. Uma simples ameaça
pública de um default iminente por parte do Governo da Grécia teria lançado o
caos na zona euro, fazendo disparar as taxas de juro e ameaçando muitos bancos,
o que poderia até provocar um efeito dominó.
A ameaça de premir o botão nuclear da dívida faria
recuar até o Sr. Schauble e a Grécia (e os outros) podiam ter obtido condições
muito mais favoráveis para superar os seus problemas. Infelizmente, optaram
pela solução servil, cobarde e atentatória dos interesses dos seus países e dos
seus cidadãos.
Esse foi o pecado original dos países do resgate: caminharam
para o cadafalso de mão estendida e de corda ao pescoço.
O erro mais recente já é do Syriza. Os trunfos da Grécia
são muito mais reduzidos hoje, com os mercados mais estáveis e a exposição à
dívida grega substancialmente deflectida. Aliás, a Alemanha tem-se empenhado em
mostrar uma relativa indiferença perante uma eventual saída da Grécia do euro.
A Alemanha e a Troika estão habituados a usar o bullying para
coagir a outra parte a aceitar as condições impostas e partem do pressuposto que os países do Sul, mesmo quando
protestam e reivindicam, acabam por ceder com pequenas concessões para “salvar”
a face. E a realidade tem-lhes dado razão. Por isso, a única forma de mudar o
jogo é jogar forte, sem hesitações e receios.
Um exemplo: após a eleição, Alexis
Tsipras jogou a “cartada russa”. O primeiro dignitário estrangeiro que recebeu
foi o embaixador da Rússia em Atenas e pouco tempo depois fez uma visita oficial
a Moscovo. Os gestos ficaram, os media especularam por uns dias, mas as
palavras foram no sentido de retirar importância às iniciativas e o follow-up
foi zero.
Caminho alternativo: anunciar, em termos
definitivos que a Grécia vetará, no seio da EU, a renovação das sanções à
Rússia e a imposição de novas sanções; requerer publicamente aos EUA a
renegociação dos termos de utilização da base naval que operam em Creta;
acordar com Putin uma visita a curto prazo de vasos de guerra russos ao Pireu;
acordar com a Rússia um financiamento, por limitado que fosse; negociar com
Moscovo a extensão do futuro gasoduto Turkish Stream até à Grécia.
O que têm a Rússia e tudo isto a ver com a dívida? Nada. Contudo
mexe com factores que importam e muito à Alemanha e aos Estados Unidos. Provoca
danos. Gera incerteza. Acima de tudo, mostra determinação, transmite à outra parte que estão dispostos a ir muito longe
para obter um resultado aceitável nas negociações. Demonstra que não é bluff,
não é só conversa. Se os acharem um pouco loucos, melhor ainda. As pessoas
receiam os loucos, verdadeiros ou fingidos, porque acreditam que eles farão o
impensável. A Coreia do Norte e o Irão são exemplos de que a aparente
insanidade pode compensar nas Relações Internacionais.
Porém, agora é tarde. A sinalética que o Syriza tem
transmitido não é a de determinação, mas sim de vacilar entre uns discursos
inflamados e uma postura mansa à mesa das negociações. Rapam o tacho à procura
de uns últimos trocos para pagar mais uma tranche ao FMI ou ao BCE e procuram
desesperadamente um acordo, em vez de falhar um pagamento para mudar as regras
do jogo.
No final, poderão ter oposto mais resistência, mas irão ceder.
Lá onde estiver, Bismarck deve sorrir…. O IV Reich solidifica-se. Sem disparar um
tiro.
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2 comentários:
Na mouche, Rui, na mouche!
É muito sórdido este "xadrez" internacional. As RI são uma treta, baseadas em jogos de poder e interesses. Nada de novo, né?
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