04 julho, 2013

Cavaco e Morsi: Diferenças e Semelhanças

CAVACO E MORSI:
DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

 
Aníbal Cavaco Silva é Presidente da República de Portugal desde 2006. Mohammed Morsi foi Presidente da República do Egipto do Verão do ano passado até…ontem. Pelo conjunto de valores, crenças e convicções, pelo país, pela idade, pelo percurso político, nada parece aproximá-los, excepto o facto de serem ou terem sido Chefes de Estado. A realidade pode não ser assim tão linear. Senão vejamos:


DIFERENÇAS:

* Cavaco é Presidente há 7 anos e ninguém o tira de lá. Morsi foi Presidente 1 ano, findo o qual foi corrido e detido.


* Cavaco pouco fala e vê a banda passar. Morsi despediu, demitiu, mudou, ameaçou, angariou poder, fez mudanças.


* Cavaco pede a continuidade da política governativa, enquanto o país ruge por mudança. Morsi exige a sua continuidade do país, enquanto milhões de Egípcios se revoltam exigindo que se vá embora.

 
SEMELHANÇAS:

* Cavaco dá posse a uma senhora no cargo de ministro das finanças que substituia o demissionário nº 2 do Governo, sem saber que o novo nº 2 também se demitira horas antes. Morsi discursa anunciando que vai instruir as forças militares e de segurança para repor a ordem no país, sem saber que estas já arquitectaram o seu derrube.


* Cavaco pede estabilidade e entendimento aos partidos e vê o líder do PS, após uma audiência com ele, proclamar a necessidade de novas eleições já com data sugerida. Morsi recebe uma nota do Comando das Forças Armadas a informá-lo que já não é Presidente.


* Cavaco pede estabilidade governativa e consenso entre os partidos. Temos instabilidade governativa, partidos que não se entendem nem se querem entender e forças sociais desavindas.


* Morsi rejeitava o que achava que era um bluff do exército, afirmava a estabilidade do seu poder e o apoio e legitimidade populares.


Enfim, a maior semelhança entre eles é que nem Cavaco, nem Morsi estão sintonizados com os respectivos povos, nem um nem outro promove as pretensões populares e ambos são surdos aos sinais que lhes chegam da sociedade.


O resultado é que Cavaco é recebido com vaias e insultos em muitos dos sítios onde se desloca e Morsi saiu do palácio presidencial a toque de baioneta.


Vale a Cavaco as diferenças entre Portugal e o Egipto: enquanto Cavaco sofre uns quantos enxovalhos, Morsi não sabe sequer qual vai ser o seu destino.

4 comentários:

Sérgio Lira disse...

Há mais uma semelhança: o egípcio fala uma língua que ninguém entende, e o português também...

Rui Miguel Ribeiro disse...

LOL! Essa é boa Sérgio!

Joaquim de Freitas disse...

Existem várias espécies de miséria . E não quero falar da "tradescantia", a crescimento rápido, da família das" commélinacées"! Que tenho no meu jardim.

Penso antes nas outras ! Por exemplo, a condição ou estado daquele, homem ou Nação, que inspira piedade. Que pode ser material ou moral.
Ou ainda a que denota uma grande insuficiência, uma grande carência no campo social, psicológico e espiritual.
Mas a pior das misérias é talvez quando ela é a expressão da fraqueza e impotência do homem e do nada da sua condição. Os homens políticos são freqüentemente vitimas desta miséria! Por vezes, o orgulho é a paixao dominante, afectando a grandeza até à mais triste miséria, vitimas dum narcisismo 'irrevogável"!
E mesmo se todas as ambições são legítimas, as que se elevam sobre as misérias dum povo crédulo são abjectas. A política, então, não é mais que a política do medo, da fome , da miséria diluída ao nível das massas que dela sofrem.

Ao ver, de longe, o espectáculo deprimente da política e dos políticos portugueses ao nível do Estado, não posso deixar de pensar nas palavras dum candidato às eleições legislativas, em França, há mais de um século, Jules Vallès :" Fui sempre o advogado dos pobres, sou o candidato do trabalho, serei o deputado da miséria! A miséria! Enquanto houver um soldado, um carrasco, um padre, um funcionário da alfândega, um rato de cave, um funcionário irresponsável, um funcionário inamovível, um policia credível sob juramento, enquanto houver tudo isso a pagar, povo tu serás miserável" !

Se as grandes revoluções nascem das pequenas misérias, como os grandes rios nascem dos pequenos riachos, é pena que em Portugal hajam tão poucos riachos!

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sr. Freitas,

Riachos há muitos e as misérias não são nada pequenas. Falta o resto....

P.S. A escrever assim, acho que devia ter o seu blog!