LÍBIA 2013 – O PANDEMÓNIO
A divisão da Líbia em 3 regiões imposta pela
Itália, potência colonial, em 1934.
Ibrahim Jadhran, sabem quem é? Bem, eu
também não, pelo menos até há dois meses atrás. Ibrahim Jadhran é Líbio e é um antigo
líder de uma das dezenas de milícias armadas da Líbia. Actualmente ostenta o
pomposo cargo de Petroleum Facilities Guard Commander (Comandante da Guarda das
Infra-Estruturas Petrolíferas). Em Setembro foi enviado pelo Governo para o
Leste da Líbia, para Ras Lanuf, o principal terminal petrolífero da Líbia. Este
terminal mais outros dois estavam paralisados devido a protestos de forças
defensoras do federalismo no país.
Estes protestos levaram a uma redução
de 60% na exportação de petróleo da Líbia (cerca de 1.000.000 barris/dia. Pois
bem, o bom do Ibrahim Jadhran, chegado a
Ras Lanuf na qualidade de Petroleum Facilities Guard Commander, em vez de pôr
cobro à paralisação, juntou-se aos protestos e passou a liderar o movimento que
impede a exportação de 600.000 barris de petróleo diários. Empolgado pelo
impacto da sua liderança, escaalou as reivindicações: das típicas exigências de
melhorias salariais para si e para os seus homens, Jadhran passou a reclamar um
governo autónomo para Cirenaica, com uma fatia mais generosa dos rendimentos do
petróleo, claro está.
Este é um retrato da Líbia de 2013.
No dia 10 de Outubro de 2013, o Primeiro-Ministro da
Líbia, Ali Zeidan, foi raptado da sua residência por um grupo armado que o reteve
sequestrado pro várias horas antes de o libertar
Este é outro retrato da Líbia em 2013.
Tripoli, a capital da Líbia, esteve uma semana sem
abastecimento de água porque elementos afectos ao regime de Kadhafi destruíram uma
bomba de água que faz fluir água do Deserto Líbio para o litoral. Uma obra de Kadhafi,
por sinal.
Este é mais um retrato da Líbia em 2013.
Em Maio, milícias armadas cercaram o parlamento líbio,
exigindo a aprovação de uma lei que barrava o acesso a cargos políticos e na
administração pública a elementos que tivessem exercido funções no regime de Kadhafi.
Um último retrato da Líbia em 2013.
Pela amostra sucinta, não será difícil concluir que,
mais de dois anos após a execução de Kadhafi, quase três desde o início da
rebelião na Líbia, o país encontra-se perto do caos.
Na Líbia assistimos às tensões federalistas na região de
Cirenaica (Leste) e no Sul, face às pulsões centralistas da Tripolitânia
(Oeste). Concomitantemente e paralelamente, existem regulares demonstrações de
força das principais milícias que ajudaram a NATO a derrubar Kadhafi,
nomeadamente as das cidades de Benghazi (Leste), Misurata (centro) e Zintan
(Oeste).
As consequências do pandemónio líbio são:
·
A quebra brutal da produção e exportação de petróleo com as
consequentes perdas de receitas e liquidez.
O Governo da Líbia previu exportar 1.300.000 barris de petróleo/dia para
sustentar o seu orçamento. Durante a primeira metade do ano ficou frequentemente
aquém do milhão. Desde Agosto que ronda o meio milhão.
·
A instabilidade no país, refém de milícias mais poderosas do que
o exército e de um poder político impotente para manter a
ordem e a segurança.
·
A desestabilização da região motivada pela fraqueza de Tripoli,
pela disseminação de armas que acompanhou o esboroamento do regime de Kadhafi e
pelo insuficiente controlo das fronteiras. Os efeitos notam-se, para além da
Líbia, no Mali, no Níger e no Sul da Argélia.
Nada disto é uma surpresa. Podia-se não se conhecer os contornos
exactos, mas a intervenção para derrubar Khadafi já trazia estas consequências
escritas de forma bem clara em apêndice.
A NATO já partiu há muito e Kadhafi já era. A herança é o
pandemónio na Líbia e a instabilidade e insegurança no Sahara e no Sahel. É
este o retrato da Líbia em 2013.
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