04 novembro, 2012

As Quatro Potências do Médio Oriente - a Arábia Saudita


AS QUATRO POTÊNCIAS

DO MÉDIO ORIENTE

A ARÁBIA SAUDITA



ARÁBIA SAUDITA

A Arábia Saudita coincide e grande medida com a imagem geográfica que muitos têm do Médio Oriente, dado que ocupa a maior parte da Península Arábica. Como é óbvio a Arábia Saudita vale muito mais do que o nosso imaginário. Basta deixar dois apontamentos:


·        É o maior produtor. É o maior exportador mundial de petróleo. Possui as maiores resrevas conhecidas de petróleo.

·        É a guardiã dos dois lugares mais sagrados do Islamismo (Meca e Medina) onde o Profeta Maomé nasceu e viveu e recebeu de Alá os dogmas da fé.


O poder e a influência da Arábia Saudita assenta, portanto, em dois pilares: o económico e o religioso. Por um lado, estamos perante um país que gera receitas fabulosas oriundas do petróleo e que se senta, literalmente sobre um autêntico tesouro das Arábias (cerca de 262 biliões de barris!!!). Por outro lado, tem um papel liderante e influente sobre uma religião com mais de 1 bilião de devotos, em média mais pios e empenhados que os Cristãos do século XXI.


A isto podíamos acrescer a sua posição dominante na Península Arábica, ocupando um vasto território do Mar Vermelho ao Golfo Pérsico e exercendo um certo poder tutelar (mas não uniforme) sobre os seus parceiros no Conselho de Cooperação do Golfo (EAU, Oman, Kuwait, Qatar e Bahrain) e ainda sobre o Iémen.

Não obstante estes trunfos, a posição da Arábia Saudita no contexto do Médio Oriente surge sempre envolta num manto de prudência e vulnerabilidade. Numa era em que o dinheiro comanda a vida e também, em grande medida, as Relações Internacionais, porque é que o Estado mais rico da região apresenta vulnerabilidades marcantes?


1-   A população saudita (27 milhões) é significativamente menor do que as dos rivais que rondam todas os 80 milhões. Em termos de massa crítica, quer no potencial económico quer no militar, é um factor limitativo.

2-   Apesar das centenas de biliões de Dólares investidos em hardware militar, especialmente dos EUA, a capacidade militar saudita ainda se encontra uns patamares aquém da concorrência. Aqui o factor demográfico desempenha um papel, assim como o presumido fighting spirit (ou falta dele) das tropas e da população.

3-   A significativa minoria xiita, concentrada na Província Oriental (ver mapa infra) é uma vulnerabilidade e existem indícios que o Irão tenta fomentar a revolta dos xiitas, do mesmo modo que o faz no Bahrain. Acresce que esta província é muito rica em hidrocarbonetos.

4-   A política externa e de segurança saudita é tradicionalmente muito prudente e frequentemente reactiva. Num ambiente bastante agressivo e competitivo, onde potências rivais como o Irão não hesitam em recorrer à pressão, ao bluff, ao bullying, à ameaça, à desestabilização e à subversão, esta postura pode ser uma desvantagem, colocando Riyadh à mercê das movimentações dos rivais.

5-   Na linha do ponto anterior, a Arábia Saudita está habituada a pagar para resolver os problemas. Na década de 1980, financiou o Iraque para travar o avanço da Revolução Islâmica iraniana; em 1991 financiou o esforço de guerra aliado para expulsar os Iraquianos do Kuwait; na década passada financiava os insurgentes sunitas que, no Iraque, lutavam contra o emergente poder xiita; em 2011 gastaram dezenas de biliões de Dólares em apoios sociais para travar qualquer surto de “Primavera Árabe” no Reino; em 2012, financiam jihadistas para combater o regime alawita na Síria. Se, por um lado, é óptimo ter recursos financeiros to pay your way out of troubles, por outro lado, tal torna-se em algo muito mau quando a fonte do problema ou a solução para o mesmo, não são susceptíveis de serem influenciadas por pagamentos.

É, pois, nossa convicção que a Arábia Saudita será destas 4 potências a que menos probabilidades terá de se alcandorar a uma posição de domínio ou hegemonia no Médio Oriente. O motivo principal para tal será mesmo a falta de perfil do regime saudita para assumir tal papel. Se quisessemos definir o papel de excelência dos sauditas, esse seria o de éminence grise. Um país capaz e hábil a actuar nos bastidores, a aplicar o poder do seu dinheiro onde e quando necessário e possível e cortejando e coagindo a potência dominante (os Estados Unidos) a garantir a sua segurança. A isto acresce a manutenção do statu quo nos seus aliados mais próximos do GCC e a presença à mesa das negociações onde sejam discutidas e decididas as grandes questões regionais.

Em 5 palavras: importante e influente sim, dominante não.


A Província Oriental da Arábia Saudita: rica em petróleo e .... em Xiitas.

Sem comentários: