AS CRISES E A
CRISE
A Crise que ameaça engolir Portugal
e os Portugueses ganhou novas dimensões nas últimas semanas com a adição de
reactores que a aceleraram e intensificaram, gerando novas crises dentro da
Crise.
Alguns dos factos e protagonistas
dos últimos episódios:
Passos
em Falso: Passos Coelho fez uma comunicação
ao país que significou mais um resoluto passo em frente na direcção do abismo.
O dele e, bem pior, do nosso. Para se ter uma dimensão do desastre, basta
referir que, de acordo com uma sondagem publicada no Diário de Notícias de
hoje, 84% dos inquiridos acha que
este Governo é tão mau ou pior do que o de José Sócrates!!!
Portas
Fechadas: Perante isto, Paulo Portas
resolveu dar com a porta na cara de Passos. Todavia, não completamente.
Poderemos dizer que Portas entalou Passos na porta, deixando uma frincha por
onde espera escapulir-se.
Moedas
Falsas: Carlos Moedas, Secretário de
Estado adjunto do PM resolveu vingar-se nos empresários, esses ingratos que,
segundo ele, se queixavam de dificuldades de tesouraria e de financiamento e
agora criticam o fluxo de capital trazido pela benesse da TSU. Moeda falsa,
porque as empresas precisam de acesso normal ao crédito bancário, não lhes
interessa que tirem dinheiro da carteira dos clientes para o colocar nos seus
cofres. Cliente sem dinheiro deixa de comprar!!!
Democracia: Está de rastos. 87%
dos inquiridos na sondagem do DN estão descrentes da (nossa) Democracia. Não
acreditam nem no Governo nem na oposição e uns impressionantes 11% votaria branco ou nulo (exactamente
o que eu faria).
Bode Expiatório: A Comunicação tem sido o bode expiatório dos partidários do
Governo e de alguns opinion makers. Concedo que Passos Coelho tem sido desastroso
(também) nesse aspecto. Porém, o que é fatal não é a forma da comunicação.
Fatal é o CONTEÚDO da comunicação.
Eu não ouço um cidadão dizendo “Ah, ele podia ter dito aquilo de outra maneira
que eu até gostava…”. Não, eu ouço milhões de pessoas que rejeitam liminarmente
as opções anunciadas pelo Primeiro-Ministro. Nunca um milhão de pessoas sairia
à rua por um problema de comunicação. Poupem-nos!
Seguro Debutante: António José Seguro debutou! Libertou-se das correntes da
Troika, da herança inquinada de Sócrates e da chantagem política do Governo e
disse não! Entusiasmado, disse não à TSU, disse não ao orçamento e disse não ao
Governo. Esgotado de tanto debute, calou-se e saiu de cena.
Estamos num beco ou há saídas? Bem, estamos num fosso dentro
de um beco, não obstante, terá de haver uma válvula de escape para o clima
político sufocante dos últimos dias. Deixo algumas dicas:
1-
O Governo não vai cair. O PSD encaixou o soco do CDS e deu a outra face. Como
partido Democrata-Cristão, o CDS não terá outra alternativa senão continuar com
o seu compagnon de route…até ver.
2-
O Governo vai recuar. Não tem outro remédio. Por muito que a Merkel pressione o
Coelho, este não tem margem de manobra para manter a proposta.
3-
O Governo vai recuar o mínimo possível e só o fará na medida da pressão do CDS, do PR, dos
parceiros sociais e do povo.
4-
Isto não acaba aqui. A Troika propriamente dita e a Troika de trazer por casa
(Coelho, Gaspar e Pereira) vai continuar a tentar esmifrar os Portugueses até
ao tutano.
5-
O Governo nunca mais será o mesmo. As dissensões internas, a tareia que levou nas ruas e o
recuo que terá de fazer fragilizam-no a vários níveis.
6-
De uma forma ou de outra, e passada
a vertigem da indignação e revolta, o PS
voltará a ocupar o seu lugar no comboio da Troika.
7-
Dificilmente a manifestação de 15 de Setembro terá uma
sequela digna da dimensão e impacto da original. Se tiver, honra aos Portugueses.
Enfim, nada será igual após o 15 de Setembro. E no
entanto, como diria Galileu, as coisas vão continuar a piorar….
2 comentários:
O que ninguém tem a coragem de anunciar aos Portugueses, é que, hoje, a mais valia absoluta é produzida mais facilmente nos países emergentes ( China, Índia, Rússia, Brasil ).
Impossível de escapar às leis inelutáveis da economia capitalista - os mais baixos salários permitem de acumular a mais forte mais valia absoluta. O que prova bem que é preciso mudar de sistema.
Em contrapartida, nos antigos países capitalistas em dificuldade (USA, Canada, GB, França, etc.) ainda é possível de fazer concorrência aos imperialistas montantes sobre a frente da mais valia obtida a partir da inovação técnica e tecnológica. A via do sucesso é , portanto, a da universidade. E da formação profissional de qualidade. Deve ser o grande investimento prioritário de não importa qual governo.
87% dos Portugueses não têm confiança na Democracia? Quem os pode culpar?
A democracia e a liberdade? Uma liberdade que não é submetida antes de mais a uma obrigação de igualdade só pode levar a derivas como esta "pseudo" "democracia" onde os eleitos fazem o que querem e onde as leis elas mesmas são completamente ignoradas quando elas não respondem aos interesses das elites... e dos políticos que lhes prestam vassalagem!
Quantos Portugueses entre aqueles que protestaram na rua, sabem como se processa a carreira dos políticos iminentes?
A vassalagem aos verdadeiros "decision makers" sem que ninguém se aperceba, das astúcias mais grosseiras às mais sofisticadas, aproveitando a fundo da função (com ou sem mandato electivo) para trabalhar no interesse da classe dominante, o que não os impede de retirar numerosos favores e vantagens pessoais (assim como para os amigos!) e de se encher os bolsos, sabendo que a classe dominante lhes procurará uma boa sinecura ( ah Schröder!) e serão largamente remunerados pelos serviços prestados à boa causa ...
O mais caricato no falso passo do vosso primeiro ministro, é que a decisão de retirar 5% aos trabalhadores para os dar aos empresários, até parece não lhes ter feito prazer ! Durty money!
Todos os adjectivos qualificativos do seu "post" precedente são bem aplicados, caro Sr. Rui Miguel !
Sem igualdade, confessemo-lo cruamente: Liberdade e Democracia aliam-se para espoliar a maioria dos cidadãos. A liberdade sozinha é um cavalo louco, a democracia é um logro que se agarra nele para fazer muita poeira, escondendo a realidade aos cidadãos.
Freitas Pereira
Caro, Sr. Freitas Pereira,
De facto o Governo cometeu a proeza de unir patrões e trabalhadores. Foi preciso uma propsota aberrante para conseguir tal feito!
Quanto aos 87%, são resultado da mentira, da parcialidade, da incompetência, do servilismo a Berlim, da arrogância e indiferença com que o Governo trata os eleitores. It's payback time!
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