18 novembro, 2010

Os Recadistas

OS RECADISTAS

A vida política em Portugal e na Europa anda pejada de recados. Para haver recados, é preciso haver quem os envie. Vamos chamar-lhes recadistas.

A Chanceler alemã, Angela Merkel, tem sido campeã na matéria. A vertigem da renovada pujança económica da Alemanha retirou-lhe a habitual discrição e não há dia que não seja citada na imprensa, ora puxando as orelhas à Grécia, ora pressionando a Irlanda ou Portugal; nos últimos dias anunciou que o fim do euro (que deixou implícito poder estar próximo) implicaria o fim da EU, para dois dias depois dizer o seu contrário, para finalmente concluir que o euro está para lavar e durar. Pelo meio, vai insistindo na ideia de penalizar os investidores pelos empréstimos que os Estados possam não pagar, fazendo disparar a taxa de juro das dívidas soberanas da Irlanda, Espanha e Portugal.

Depois das declarações de Merkel sobre o euro e a EU, veio Van Rompuy (Who?), atento, venerador e obrigado, reiterar a mesma ideia. Como Merkel já se contradisse, aguarda-se que o Belga que preside ao Conselho Europeu faça o mesmo brevemente.

Comissários europeus e seus acólitos, assessores e porta-vozes, debitando recados, soando alarmes e entoando mais ou menos veladas ameaças é o prato do dia. Até a venerável OCDE parece ter perdido o tento na língua e deu em fornecer a Portugal instruções semanais sobre política económica e orçamental.

Por cá, temos os recados contraditórios que emanam do Governo e do PS, com o Ministro das Finanças a dizer que os cortes salariais na função pública são definitivos (sendo contrariado por um Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS) e a falar na iminência da intervenção do FMI, para ouvir o PM a dizer que isso não era uma hipótese.

E os recados proliferam emanado dos partidos, dos mass media, dos bancos, dos comentadores e dos ex-qualquer coisa (ex-Presidentes, ex-Ministros, ex-directores, etc).
Escusado será dizer, que este engarrafamento recadista, lança a maior confusão junto do público, agita ainda mais os mercados e distrai os decisores da sua missão hercúlea de tirar do buraco financeiro os países que eles próprios lá meteram.

Só resta saber quem será capaz de levar a carta a Garcia, que é como quem diz, quem será capaz de atingir os propósitos subjacentes aos respectivos recados (para este efeito, sugiro o regresso ao início do post).

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