20 janeiro, 2009

A Guerra de Gaza

A GUERRA DE GAZA

Merkava 3, o principal carro de combate israelita, abrindo fogo em exercícios realizados em 2005.
Ao fim de 22 dias terminaram, até ver, as hostilidades em Gaza. Apesar de ser prematuro tirar conclusões definitivas, é tempo de fazer um balanço do que aconteceu e da actuação dos protagonistas e traçar as perspectivas que se colocam ao minúsculo território.

A guerra de Gaza era inevitável: o lançamento de cerca de 7000 rockets do Hamas e da Jihad Islâmica sobre o Sul de Israel ao longo de três anos, não deixavam outra alternativa. O único dado surpreendente será a paciência que Israel teve durante este período, esperando talvez que o bloqueio económico surtisse efeitos. Era de esperar que não fosse suficiente e de facto não foi; como é frequente nestas situações, a população foi atingida antes e mais duramente do que a estrutura dirigente e militar.

Israel: A vitória militar foi inquestionável. O IDF (Israel Defence Forces) conduziu a guerra da forma que bem entendeu, de uma forma faseada, organizada e sem falhas aparentes, ao contrário do que sucedera em 2006 no Líbano. As baixas israelitas são quase insignificantes (13 mortos, 4 provocadas por friendly fire) e os alvos terão sido todos atingidos. Além do mais, o cessar-fogo também foi feito no timing israelita. As dúvidas são três: Primeiro, o fim das hostilidades não terá sido precipitado por causa da mudança de poder em Washington? E, também por causa disso, o processo de esmagamento da capacidade militar do Hamas poderá não ter ido tão longe quanto desejável. Em segundo, que garantias existem que a fronteira Sinai-Gaza vai ficar selada aos abastecimentos militares do Hamas? Terceiro, se os rockets voltarem a cair nos próximos tempos em Siderot ou HGhg, os candidatos a Primeiro-Ministro que são neste momento Ministro da Defesa (Ehud Barak) e Ministra dos Negócios Estrangeiros (Tzipi Livni) poderão ter dificuldades em explicar a Operação Chumbo Derretido aos Israelitas.

Hamas: A bravata habitual sobre o inferno que ia descer sobre as tropas israelitas e o massacre que se iria seguir deu lugar à verdade nua e crua: o Hamas revelou-se absolutamente incapaz de constituir uma ameaça credível para o IDF, infligiu-lhe apenas 9 mortes, e teve de recorrer à habitual táctica cobarde de se esconder atrás dos civis palestinianos que supostamente devia proteger. Acabados os combates, os bravos líderes e combatentes (?!?) reemergiram para repetir as suas grotescas ameaças. Não obstante, não é líquido que esta organização terrorista esteja fora de combate e a tentação de atingir Israel antes das eleições de 10 de Fevereiro deve ser grande, para tentar maximizar as hipóteses de o Likud de Netaniahu ganhar as eleições e garantir assim o endurecimento de Jerusalém nas negociações do processo de paz. Resta saber se a população de Gaza terá ficado mais esclarecida quanto à incapacidade de o Hamas lhe garantir desenvolvimento económico, paz e segurança. Duvido.

Fatah: A Fatah é o elemento escondido desta guerra e, potencialmente, o seu principal beneficiário. O reassumir do controlo da Faixa de Gaza por Mahmoud Abbas seria o melhor meio de tentar repor algum grau de paz de tranquilidades na zona, mas pelo se afigura, tenho dúvidas se o Hamas estará suficientemente enfraquecido para não conseguir colocar resistência ao regresso da Fatah a Gaza e até que ponto é que a população a acolheria bem.

Egipto: Renascido do limbo diplomático, o Egipto foi o protagonista dos planos para findar o conflito e o centro das peregrinações de estadistas europeus à região, mas o seu papel verdadeiramente importante começa agora: pela selagem da fronteira do Egipto com Gaza, passa muito da duração do cessar-fogo existente.

Estados Unidos: A guerra teve um bom timing para os EUA – com um Presidente pró-Israel de saída e outro com muitas incógnitas de entrada, Washington apoiou Israel, criticou o Hamas e assobiou para o ar a maior parte do tempo.

Mundo Árabe: Conspicuamente ausente, torcendo a maioria que o Hamas fosse dizimado e a minoria que Israel soçobrasse, sobrou a irrelevância.

União Europeia: A Presidência Francesa acabou e a Checa começou, mas ninguém notou porque, nos momentos graves e importantes, são as grandes potências que aparecem e intervêm, seja com a presença colectiva com o Primeiro-Ministro Olmert no anúncio do cessar-fogo, seja no frenético cruzar do Médio Oriente de Sarkozy.

Agora, se as coisas se mantiverem calmas, resta esperar que os Israelitas votem e que a nova Administração Americana assente, para ver qual vai ser o rumo a curto prazo, porque no médio prazo, já não haverá muita gente que se atreva a pensar.

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