HIPOCRISIAS
Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 8 de Dezembro 2007
Há um ano (19/12/16) publiquei um post intitulado “Europa e África”(http://tempos-interessantes.blogspot.com/2006/12/europa-e-frica.html) em que verberava a hipocrisia europeia em acolher o mesmo Robert Mugabe que a EU baniu de território comunitário por graves e continuadas violações dos direitos humanos. Aí escrevi:
“Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, têm de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.”
Doze meses volvidos e a “coisa” aconteceu. Comme d’habitude, alguns dos piores, como Mugabe ou Khadafi, foram as estrelas da festa e o foco das atenções mediáticas. Os ditadores regressaram a casa com o seu estatuto e prestígio reforçados, os desgraçados continuarão a tentar desgraçadamente sobreviver e os líderes europeus registarão com satisfação mais uma cimeira bem sucedida. O Darfur, o Zimbabwe, a Somália, o Chade podem esperar.
“Lá se vai a suposta “superioridade” moral dos Europeus; para conseguir realizar uma cimeira, provavelmente inconsequente, têm de ceder aos caprichos de alguns dirigentes africanos e receber um ditador assassino, cleptocrata e racista. É claro que se se tratasse de Pinochet, Alexander Lukashenko, ou Jorg Haider, haveria um tsunami político-mediático condenando a atitude imoral dos líderes europeus. Se for Mugabe ou Fidel Castro, tudo corre bem, pertencem à turma de ditadores aceites pela intelligentsia europeia. Pior ainda, é que além de Mugabe, virá mais uma clique de ditadores mais ou menos sanguinários, mas que nem da lista negra constam.”
Doze meses volvidos e a “coisa” aconteceu. Comme d’habitude, alguns dos piores, como Mugabe ou Khadafi, foram as estrelas da festa e o foco das atenções mediáticas. Os ditadores regressaram a casa com o seu estatuto e prestígio reforçados, os desgraçados continuarão a tentar desgraçadamente sobreviver e os líderes europeus registarão com satisfação mais uma cimeira bem sucedida. O Darfur, o Zimbabwe, a Somália, o Chade podem esperar.
Por Bandeira in “Diário de Notícias”, 10 de Dezembro 2007
Sendo um Realista das Relações Internacionais, entendo que os Estados devem prosseguir os respectivos interesses nacionais da melhor forma possível. Isto não significa que vale tudo, mas que não podemos/devemos aplicar aos Estados nas RI os mesmos critérios morais que aplicamos aos indivíduos.
No entanto, se os Estados-Membros da União Europeia se arvoram em paladinos dos direitos humanos no mundo e fazem dessa causa uma bandeira, exige-se-lhes coerência e honestidade. Eles oferecem-nos hipocrisia. Nothing new!
No entanto, se os Estados-Membros da União Europeia se arvoram em paladinos dos direitos humanos no mundo e fazem dessa causa uma bandeira, exige-se-lhes coerência e honestidade. Eles oferecem-nos hipocrisia. Nothing new!
P.S. Bandeira tem piada como habitualmente, e tem razão duas vezes: os Europeus não tiveram coragem para mandar Mugabe para o espaço (nem para qualquer outro sítio) e de facto havia alguns elementos perigosos em Lisboa no último fim-de-semana.
4 comentários:
A propósito da "clientela" que a "Kapital" teve nesse fim-de-semana, comentei que esperava que o único juiz espanhol que conhecemos, Baltazar Garzón, poderia (e deveria) aparecer com um dos seus trunfos... o "mandado de captura internacional de ditadores"!!!
Lamentando não ter acontecido esse aspecto, devo dizer que apesar disso a Cimeira foi um êxito tremendo... começou com os convites; passou pelas "novela" dos convidados não quererem outros convidados; passou também pela tenda do "verdadeiro Kadhafi" (não o "kadhafi dos pneus"); e terminou com o jubilo dos anfitriões pelos "enormes" objectivos alcançados.
... é de salientar que se falou de direitos humanos... disse-se mais ou menos: "meus amigos e brilhantes líderes africanos, desculpem mas se não digo isto zangam-se... respeitem os direitos humanos. (pronto já disse, já não me podem "pegar")".
Vai ser difícil chegar a Janeiro e ter que "aturar" os actuais líderes europeus de regresso ao pequeno rectângulo... estavam tão bem a "brincar" aos anfitriões!!!
Pois é meu caro João Pulido, os "anfitriões" vão de júbilo em júbilo rejubilando, e suspeito que vão acordar com uma grande "ressaca" de pompa e circunstância no Ano Novo.
Quando "cairem na real" é que virão as dores de cabeça.
Hipocrisia Internacional ? ? Sim, pois!
Ouviram falar disto ?
Os média em geral falaram um pouco do Dia dos Direitos do Homem .Para os grandes tenores e sopranos da defesa dos Direitos do Homem no Ocidente, este tema só concerne a China, a Rússia, e Kadhafi, de facto no mundo inteiro, salvo as atrocidades cometidas pelo Ocidente.
Sobretudo não o que se passa na Palestina, no Iraque, no Afeganistão e em Guantanamo e muitos outros centros de tortura.
Aquando da visita de Kahdafi em França, a histeria atingiu o auge. Claro que era necessário condenar o comportamento ditatorial de Kadhafi, com a condição de não esquecer o resto. A tal hipocrisia de que fala o Snr.Rui Miguel Ribeiro.
Aqui viu-se deputados, abandonar os bancos da Assembleia Nacional para não receber Kadhafi. Mas os mesmos receberam o Rei de Marrocos, o presidente Assad da Síria, e outros!
São as tais "choradeiras profissionais"dos Direitos do Homem. Mas os mesmos precipitaram-se para aplaudir os representantes de Israel, quaisquer que tenham sido os horrores cometidos na Palestina, ou no Líbano. Ou ainda Bush: um milhão de mortos no Iraque, com a destruição metódica e total do pais em nome da supressão de armas de destruição maciça, que junca existiram.
Sem ir muito mais longe, estas choradeiras profissionais, são incapazes de pegar numa vassoura e varrer em frente da casa França, onde há muito trabalho para fazer, quanto mais não seja nas condições das prisões Francesas que mereceram ao Governo Francês repetidas repreensões da UE.
Oxalá vâo rápidamente de jubilo em jubilo até à derrota final.
Pela parte que directamente me diz respeito, a minha tutela não me deu descanso com as suas ideias luminosas. Acho que o meu ministério deve ter estado um bocado ausente de grande partes dos eventos
Maria
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