TURQUIA DESESTABILIZA MEDITERRÂNEO ORIENTAL
A grandeza do Império Otomano que transtorna Erdogan e a sua comparativamente reduzida Turquia.
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Em 2017, Erdogan realizou a primeira visita de um Presidente turco à Grécia em 65 anos. Para espanto do Presidente grego, o turco declarou que é imperativo alterar o conteúdo do tratado de Lausanne, obviamente em favor da Turquia. Nos temos deste Tratado assinado em 1923 a Grécia ficou na posse da maior parte do Mar Egeu.
Desde então, tem-se assistido a um crescendo de agressividade e de desígnios expansionistas da parte da Turquia. Os alvos e os métodos variam, mas os fins são claros:
* Crescimento territorial via pressão, ameaça, ocupação e conquista, especialmente na Síria e, em menor grau, no Iraque.
* Assalto a recursos energéticos (gás natural e petróleo) no Mediterrâneo Oriental pertencentes a países terceiros, principalmente o Chipre, Grécia, Egipto, mas também o Líbano e Israel.
* Uma pretensão lunática de alargamento abusivo das águas territoriais turcas a expensas da Grécia, Chipre e Egipto, num movimento à la China no Mar do Sul da China.
* Comportamentos hostis e agressivos contra navios e aviões de guerra da Grécia e da França.
Esta transfiguração turca enquadra-se no ambicioso e revivalista regresso ao tempo glorioso dos Otomanos que, efectivamente controlaram o Mediterrâneo Oriental por longo tempo.
A evolução do Império Otomano desde 1300 até ao seu auge em 1683.
Tal como os Russos dificilmente recuperarão o Império Russo de antanho e, ainda menos, a dimensão da extinta União Soviética, a Turquia não voltará a dominar o Sudeste da Europa, o Norte de África, grande parte do Médio Oriente e, também, não deverá transformar o Mediterrâneo Oriental num mar turco.
Contudo, tal não impedirá, nem tem impedido, Ankara de continuar a política de agressão, ameaça e expropriação indevida. Se não houver uma oposição determinada, capaz de pôr os Turcos em sentido, esta instabilidade pode redundar numa conflagração. E os ingredientes para um conflito existem em abundância:
* A rivalidade histórica entre Atenas e Ankara, reforçada pelos incidentes provocados pela Turquia.
* A hostilidade que dura há uma década entre o Cairo e Ankara, agravada pela Guerra na Líbia.
* A tensão no Chipre que já tem mais de 40 anos e que é mais séria por causa das intrusões da marinha turca para sondar hidrocarbonetos.
* A Guerra na Líbia na qual a Turquia se envolveu a fundo há uns meses e onde enfrenta o Egipto, os Emiratos Árabes Unidos, e, talvez, a Rússia.
* A Guerra da Síria, mesmo numa fase aparentemente terminal, continua a presenciar antagonismos entre Turcos e Sírios, Iranianos e, até, Russos.
* Finalmente, há a insuficiente, mas crescente oposição por parte de potências externas como a França.
Os últimos meses têm revelado receio e timidez da parte das vítimas e dos adversários da Turquia, como se percebe pela tibieza das acções e declarações da EU. Parece óbvio que só uma intervenção firme de um ou mais Estados europeus, envolvendo determinação dos actores, adequada dimensão do envolvimento militar que empreguem e controle exercido sobre uma eventual escalada militar, poderá fazer vacilar a voracidade turca. Infelizmente, há poucos países com os meios, a coragem e a determinação de travar a Turquia.
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