EXTREMO ORIENTE EXTREMADO
in “STRATFOR” em www.stratfor.com
Nos últimos anos, o Médio Oriente perdeu o monopólio da instabilidade crónica, do conflito, da guerra, do terrorismo e escaladas militares, que detinha desde o fim da Guerra Fria. O Extremo Oriente, a.k.a. Ásia Oriental, a.k.a. Pacífico Ocidental, teatro do confronto entre os Estados Unidos (EUA) e a República Popular da China (PRC) tem adquirido um crescente protagonismo ao nível das hostilidades.
Note-se que a probabilidade de um repentino (re)surgimento de um conflito ainda é muito maior no Médio Oriente do que no Extremo Oriente. Porém, um conflito directo entre os EUA e a RPC pode ter repercussões catastróficas dado o poder destrutivo de ambos os contendores.
Os focos de potencial conflito são inúmeros, sendo que praticamente todos são despoletados pela China, destacando-se os seus esforços de apropriação indevida do Mar do Sul da China, as ameaças e agressões a outros países ribeirinhos como o Vietname, as Filipinas, a Indonésia e a Malásia, as provocações ao Japão e a hostilidade (recíproca) para com Washington. No entanto, a maior ameaça, o risco mais explosivo, é Taiwan.
Mísseis Dongfeng 16 (DF-16) de médio alcance (1600 km) são uma ameaça para Taiwan.
in “TAIWAN NEWS” em https://www.taiwannews.com.tw/en/news/3121786
Taiwan tem crescido muito em termos económicos, tecnológicos, políticos e de auto-estima nacional. E também dispõe de uma razoável capacidade militar. A China, por outro lado, tem uma vontade sôfrega de engolir e submeter Taiwan a Pequim.
Exercícios em Taiwan de mísseis supersónicos anti-navios Hsiung Feng II E e mísseis terra-ar Sky Bow III.
in “GLOBAL TIMES” em https://www.globaltimes.cn/content/1202067.shtml
A crescente pressão política e militar chinesa encontrou uma séria contrariedade: em relação a Taiwan, a Administração Trump e o próprio Presidente têm demonstrado uma abertura, cooperação e apoio como há muito não se via. Tudo começou quando Donald Trump aceitou receber um telefonema congratulatório pela sua vitória eleitoral pela Presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen. Desde então, sucederam-se as demonstrações de maior proximidade, desde a visita de membros do Governo americano até à venda de mais material militar, nomeadamente 66 F-16 e mísseis ar-terra de longo alcance.
Cada vez que algo acontece, lá vem a RPC realizar exercícios militares com fogos reais ao largo de Taiwan. Contudo, tal exibicionismo não tem feito Washington e Taipé mudar de rota.
A ameaça chinesa é real. A China detém um tremendo arsenal de mísseis balísticos e de cruzeiro que ultrapassa os 2000, a maioria dos quais apontados a Taiwan. Estes mísseis com um alcance entre os 500km e os 5.500 km têm também como objectivo a marinha de Guerra dos EUA e as respectivas bases disseminadas pelo Pacífico Ocidental.
O objectivo chinês é simples: usar o seu arsenal de mísseis para bloquear a aproximação de forças navais americanas aos mares próximos da costa chinesa, impedindo que estas possam prestar apoio a Estados como Taiwan que estejam sob agressão de Pequim. Se tal suceder, a China poderá nem precisar de recorrer à agressão militar. Desprovidos do apoio norte-americano e incapazes de bater os chineses, a maioria dos países provavelmente submeter-se-ia às vontades de Pequim.
INF – Intermediate Nuclear Forces Treaty
Aqui entra o INF (Intermediate Nuclear Forces Treaty), assinado pelos Estados Unidos e pela União Soviética em 1987 e que proibia o desenvolvimento e emprego de mísseis terrestres de médio e intermédio alcance (500-5500km). Os EUA retiraram-se do INF em Agosto de 2019, alegadamente devido a violações do Tratado por parte da Rússia.
E daí?
Daí, os EUA e a Rússia voltaram a deter o direito de desenvolver e instalar essas tipologias de mísseis. No caso dos EUA, tal representa a melhor oportunidade para contrariar a estratégia chinesa pagando na mesma moeda.
Os Estados Unidos e, em menor escala, o Japão, têm capacidade para agredir de longa distância o arsenal chinês a partir de plataformas navais e aéreas. O Pentágono está a equacionar estacionar mísseis móveis terrestres na região e outras opções se prefiguram como recorrer aos 4 submarinos da classe Ohio com capacidade para 154 mísseis cruzeiro cada e desenvolver uma variante convencional ao novo míssil cruzeiro em desenvolvimento, uma standoff weapon que permite atacar o alvo a longa distância, ficando fora da capacidade de fogo do adversário.
Uma forte, eficaz e determinada presença militar dos EUA, dos seus aliados no Extremo Oriente e do Reino Unido e Austrália é vital para conter as ambições e agressões chinesas e, se necessário, travar uma guerra. Este desenlace não é crível a curto prazo, mas a realidade é que o Extremo Oriente está cada vez mais extremado.