IMPLOSÃO DO
IÉMEN
A pulverização do Iémen mostrada neste mapa
parcial da divisão territorial.
No dia 10 de Abril foi identificado o 1º caso de corona
vírus no Iémen. No dia 11 de Abril, a Arábia Saudita e os seus aliados
anunciaram um cessar-fogo unilateral na Guerra do Iémen para facilitar o combate
à doença. Dias depois, o Ansar Allah, aka Houthis, que controla o Norte e o
Oeste do Iémen incluindo a capital Sanaa, rejeitaram o cessar-fogo como sendo
um estratagema dúbio da Coligação e prosseguiram com as suas acções armadas. No
dia 17 de Abril, a coligação liderada pela Arábia Saudita retomou os ataques
aéreos no Iémen, com o foco em Sanaa.
Poder-se-á concluir que pouco mudou no Iémen desde que o
último post sobre o país foi publicado em Tempos Interessantes há 5 anos. Na
verdade, o estado de guerra, as inúmeras baixas, a pobreza, a fome e a
insegurança, mantêm-se imutáveis, mas o conflito evoluiu significativamente ao
longo dos anos.
Desde logo, o fornecimento de mísseis balísticos e de
drones do Irão aos Houthis, que reforçaram a capacidade do grupo atingir alvos
na Arábia Saudita, demonstrada pelo lançamento de um míssil sobre Rhiyadh em
Novembro de 2017. No mesmo mês, a coligação dos
Houthis e das forças do ex-Presidente Ali Abdullah Saleh rompem a aliança que
durava desde 2015 e Saleh acaba sendo morto em combate.
Em Agosto de 2019 dá-se nova ruptura, desta vez na
coligação que promovia o governo legítimo do Iémen, liderado por Abbuh Mansour
Hadi. O movimento separatista Southern Transitional Council (STC), apoiado
pelos Emiratos Árabes Unidos (EAU) tomou controle da importante cidade
portuária de Aden. Assim, o governo de Hadi, depois de ter sido expulso da
capital Sanaa, foi também afastado de Aden, capital do extinto Iémen do Sul.
O ano de 2019 foi o segundo mais letal da Guerra com
mais de 23.000 mortes e o primeiro trimestre de 2020 também se caracterizou por
violentos combates.
O que se pode esperar do futuro próximo? O passado recente e o
presente não auguram nada de bom.
O Ansar Allah/Houthis registou ganhos territoriais
nos últimos meses o que lhes dá margem para elevar o nível de exigências:
retirada de todas as tropas estrangeiras do território iemenita e levantamento
do bloqueio naval e terrestre. “The Houthis see a ceasefire as more than just a halt to military
activities," Aljazeera quoted. Tal significa que
estão confiantes e seguros e só aceitarão compromissos que lhes sejam bastante
vantajosos.
A Arábia Saudita parece cansada de uma guerra que se
arrasta no tempo bem mais do que esperaria. Após uma fase inicial da Guerra em
que registou significativos progressos, a partir de 2017/18 os ventos da guerra
mudaram e os Houthis, apoiados pelo Irão, começaram a ameaçar os ganhos anteriores
e a lançar mísseis sobre território saudita. A Arábia Saudita enfrenta um
dilema complexo:
* Está enfraquecida pela saída dos EAU da coligação
em Agosto de 2019, que redundou em combates entre forças patrocinadas pela
Arábia Saudita e o STC apoiado pelos EAU. Note-se que os EAU eram o 2º parceiro
mais relevante da coligação.
* Está pressionada pela queda brutal dos preços e da
procura de petróleo, o que reduz a sua margem de manobra financeira.
* Tem vontade de encerrar este capítulo, mas não o
quer fazer sem salvar a face e não quer que o Irão estabeleça um baluarte na
Península Arábica e ainda menos num país contíguo com o Reino.
O Iémen e os diversos agentes envolvidos no conflito estão
presos num círculo de violência e orgulho que vai inviabilizando qualquer
solução que leve ao término da Guerra. O mais provável é que a situação se
arraste com o seu lastro de morte, fome e violência na vã esperança que a
situação e os dilemas se resolvam por eles próprios.
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