“WORST
DEAL EVER” IS…OVER
Donald Trump anuncia saída dos EUA do Acordo Nuclear com o Irão.
in “THE TELEGRAPH”, em https://www.telegraph.co.uk/news/2018/05/08/donald-trump-announces-decision-iran-nuclear-deal-live-updates/
Já está. Os
Estados Unidos retiraram-se do Acordo Nuclear com o Irão (Joint Comprehensive Plan of Action - JCPOA). O Acordo, rotulado pelo Presidente Donald
Trump como “the worst deal ever”, seems to be…over.
A maior surpresa
não é o ter acontecido, mas sim o tempo que demorou a acontecer. Surpreendentemente
também, ou talvez não, é o choque sentido por muitos por Donald Trump ter
cumprido (goste-se ou não) uma promessa eleitoral.
Em relação ao Acordo e
respectivas negociações, Tempos
Interessantes tem assumido uma posição crítica desde 2009 (antes), 2013
(durante) e 2015 (após) e mantém-na em 2018 (agora).
No post de 2015,
“Irão (Quase) Nuclear” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2015/09/irao-quase-nuclear.html), aponta-se as principais
lacunas e deficiências do JCPOA que, já tinham sido antevistas no post de 2013
“Os Desesperados” (http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2013/10/os-desesperados.html)
Nada no histórico
do Irão confere confiança em relação a uma eventual contenção nuclear à medida
que as restrições e condicionamentos do JCPOA vão prescrevendo. O argumento de
que, com o Acordo e o consequente aumento da interacção internacional, O regime
de Teerão amoleceria e ir-se-ia desintegrando era semelhante a uma aposta no
casino: pode-se ganhar, mas o mais certo é perder.
A realidade é que
o Irão assinou o JCPOA porque a sua economia estava de rastos, mas os seus
planos e ambições geopolíticos mantiveram-se, como era expectável. Aliás, com a
injecção de liquidez que recebeu, Teerão pôde dar-se ao luxo de incrementar o
intervencionismo externo, especialmente na Síria, Iraque, Iémen e Líbano. Os sonhos miríficos de Barack Obama e John
Kerry sobre um Irão bonzinho e benfazejo eram um misto de ingenuidade,
ignorância e desespero por obter um acordo.
O Irão constitui um
problema que vai bem além do programa nuclear. Desde a Revolução de
1979 que a República Islâmica tem
prosseguido o objectivo de se guindar a potência hegemónica do Médio Oriente,
provocando instabilidade e conflitos no processo.
Por outro lado, o
regime nutre um ódio mortal por Israel, independente dos objectivos
geopolíticos, mas que agrava as tensões e a probabilidade de sérios conflitos,
como já se vai verificando na Síria; a postura anti-israelita serve de pretexto
para apoiar organizações terroristas como o Hezbollah, o Hamas e a Palestinian
Islamic Jihad (PIJ) e para gerar apoios na população árabe.
Posto isto, o facto de o
Irão estar, alegadamente, a cumprir os termos do JCPOA não é o mais relevante,
por muito chocante que tal possa parecer. O Irão, na sua presente forma,
constitui uma ameaça multidimensional que contribui como ninguém para a
crescente volatilidade e conflitualidade no Médio Oriente.
Quanto ao JCPOA,
este não resolve a questão nuclear -it just kicks the can down the road- e não
só não resolve, como criou as condições que permitiram a Teerão aumentar a sua
agressividade e intervencionismo externo. A retirada dos EUA do Acordo poderá
acabar com as ambiguidades.
E agora? Esta é a
pergunta que os comentadores colocam desesperados. Não há Plano B, acrescentam,
ainda mais desesperados.
Bem, agora, há
três hipóteses mais óbvias, que não carecem de Plano B:
1- O Acordo prossegue,
coxo, com os outros 6 signatários. Contudo, os ganhos iranianos serão muito
menores, logo as suas dificuldades internas e externas serão maiores.
2- O Acordo é renegociado,
alterado, melhorado e tornado mais abrangente, ou é feito um paralelo para
resolver as lacunas do actual.
3- O Acordo rui* e voltamos
a 2015. Aí, ou se negoceia a partir do zero, ou os EUA terão de assumir a
responsabilidade e os custos de resolver o problema de nova corrida nuclear do
Irão.
Nada de
catastrófico, portanto. No 1º caso, ficar-se-ia melhor do que agora porque o
Irão teria menos meios e mais dificuldades. O 2º cenário seria claramente o
melhor. O 3º seria o pior, mas nada que não viria a acontecer com grande
probabilidade a médio prazo se se mantivesse o statu quo.
* Não sou eu. Trata-se do presente indicativo do verbo
ruir na 3ª pessoa do singular.
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