28 fevereiro, 2017

Um Passo à Frente, Outro Atrás



UM PASSO À FRENTE, OUTRO ATRÁS


Donald Trump fez, durante a campanha e após as eleições várias declarações bombásticas sobre política externa. Muitas delas provocaram escândalo e comoção, o que não significa que fossem destituídas de mérito.

Contudo, cada vez que o novo Presidente dos Estados Unidos conversa com um líder estrangeiro, a mensagem que passa é diferente. Cada vez que o Vice-Presidente Michael Pence, ou o Secretário da Defesa James Mattis fazem declarações no estrangeiro, a mensagem difere da do Presidente, seja no tom, seja no conteúdo. A reformatação da relação com a Rússia está envolta em dúvidas, a Crimeia já será para ser devolvida, a política de “Uma China” foi reabilitada, o empenho na NATO só depende de os aliados abrirem os cordões à bolsa e o combate activo à expansão chinesa no Pacífico Ocidental parece ter ido para o congelador.

Nem tudo tem sido marcha atrás. A política de rejeição ou revisão de acordos comerciais multilaterais está a avançar, o apoio ao Reino Unido e ao Brexit manteve-se, bem como, a vontade de bilateralizar as relações externas, nomeadamente com os países europeus.

Uma explicação possível é facto de a administração ter pouco mais de um mês e muita coisa precisa ainda de ser calibrada. Outra hipótese é tratar-se de uma estratégia deliberada: a coexistência das mensagens mais explosivas do Presidente com as mensagens mais tradicionais dos membros do seu gabinete provoca incerteza, confusão e insegurança em parceiros e adversários; esse nevoeiro comunicacional pode levá-los a seguir políticas que julgam mais próximas das pretendidas pela Casa Branca que, dessa forma, vai atingindo os seus objectivos. Um exemplo disso mesmo é o anunciado incremento do orçamento de defesa e do contingente militar da Alemanha. A última hipótese, e a menos desejável, é estarmos em presença de uma administração esquizofrénica.

Não há dúvidas que Donald Trump vive bem com o caos de uma avalancha comunicacional nem sempre estável ou coerente. A questão está em saber se ele saberá daí recolher dividendos, como na campanha, ou se acabará enredado na confusão. Até ao Verão já se deverá divisar melhor…

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