30 abril, 2016

O Criminoso Volta Sempre ao Local do Crime



O CRIMINOSO VOLTA SEMPRE AO LOCAL DO CRIME

 Curiosamente, a zona de Sirte onde o Coronel Kadhafi foi abatido é a mesma onde se concentra o Estado Islâmico na Líbia.
in “STRATFOR” em www.stratfor.com

É sabido que a intervenção militar na Líbia pelos Estados Unidos, França e Reino Unido e coordenada pela NATO foi uma farsa (ver “Farsa na Líbia” em http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2011/03/farsa-na-libia.html , na qual as referidas potências criaram um pretexto (proteger civis ameaçados pelas tropas de Khadafi em Benghazi), aprovaram uma Resolução no Conselho de Segurança da ONU de acordo com o pretexto e depois dedicaram-se a apoiar milícias rebeldes, atacar o exército líbio, bombardear edifícios governamentais em Tripoli e perseguir o Coronel Khadafi até ele ser sumariamente liquidado. Nesse momento, a missão da NATO foi dada por terminada, confirmando que a eliminação de Khadafi e a mudança de regime (regime change) foi o real objectivo da intervenção.

É também sabido que, além da intervenção capciosa, as suas consequências foram catastróficas para o país e para o povo, resultando na desintegração do Estado, ficando a Líbia mergulhada, até hoje, no caos, variando entre a existência de 1, 2, ou 3 governos em simultâneo, sendo que nenhum consegue exercer real autoridade sobre o país inteiro.

A Líbia tem sido, pois, uma manta de retalhos, em permanente conflito e instabilidade, com múltiplas milícias e organizações terroristas controlando cidades e/ou regiões, à margem do resto do país, excepto quando se confrontam em combate por poder, território e petróleo.

Apesar de terem efectivamente destruído a Líbia com a intervenção de 2011, os mesmos protagonistas estão ansiosos por lá voltar. Aliás, já voltaram. Abundam os relatos de que forças especiais dos EUA, Reino Unido e França já estão no terreno a treinar e armar as milícias ou grupos que escolheram apoiar. Mais, os mesmos relatos indicam que estas potências aguardam um  pedido formal do novo governo (supostamente consensual, mas que ainda não foi aprovado pelos dois (?) parlamentos existentes, um em Tripoli e o outro em Tobruk), para legitimar uma intervenção armada em maior escala, cerca de 6000 tropas, nominalmente liderada pela Itália.

É claro que, não estando o dito governo ainda firmemente estabelecido, o tal pedido ainda não foi formulado. Mas as potências estão impacientes e já foram enviando as referidas forças especiais, cujas espcialidades incluem intervir sem se saber, fazer sem se saber o quê, nem a quem, ou com quem e com quê. E sem prestação de contas ou escrutínio político e muito menos público. Cómodo e conveniente.

O pretexto, esse terá de ser diferente, mas foi fácil de encontrar: o bicho papão da actualidade, o Estado Islâmico (IS). Pouco importa se o papel do IS na Líbia é relativamente menor, ou que a sua área de influência se circunscreve a Sirte e pouco mais, ou que o IS está longe de representar o principal problema na Líbia. O que conta é que se trata da desculpa/pretexto do momento e uma que quase toda a gente aceita sem questionar ou objectar.

E assim, a pandilha que estilhaçou a Líbia em 2011/12 está de volta em 2015/16. Como reza a máxima da literatura policial, o(s) criminoso(s) volta(m) sempre ao local do crime. Resta saber que malfeitorias farão desta vez.






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1 comentário:

Estella disse...

Bom dia Professor!
A exposição que apresenta leva-me a tecer de imediato duas considerações/conecções:
dinheiro e armas.
O "povinho", na sua generalidade, está depauperado.Longe de ser uma condição isolada, é global. A alta finança, confinada nos paraísos fiscais, tem o dinheiro parado.
O dinheiro acumulado pela fuga ao fisco é pouco. Há que conceder crédito a juros altíssimos, custe o que custar às Nações e à maioria da população global. Por outro lado, as empresas de armamento sem umas "guerrinhas" vão à falência. Daí o acender de rastilhos de pólvora para activar ambos - dinheiro e armas. Motivação e criatividade será o que menos falta aos países ingerentes. As consequências das suas acções são "danos colaterais". Se os povos intervencionados ficam melhor ou pior, é indiferente. O mais lamentável é a atitude das NU e do Conselho de Segurança. Se conhecermos a sua composição, também está tudo esclarecido. Se calhar,devia mudar o nome. Onde pára a segurança do povo líbio, iraquiano,afegão, centro-africano e todos que vivem constantemente "ajudados" pelo grupo do costume?
Alguém me explique, por favor!