11 abril, 2015

Gestão de Expectativas



GESTÃO DE EXPECTATIVAS


O acordo é interino e incompleto, mas o Irão nuclear é um fait-accompli.
in “THE ECONOMIST” em www.economist.com  

Os P5+1 (Reino Unido, Rússia, Estados Unidos, França e China + Alemanha) e o Irão chegaram a um Framework Agreement sobre o programa nuclear iraniano e as sanções que impendem sobre o Irão. Não farei aqui uma análise detalhada, nem sequer um balanço do acordo porque, em bom rigor, ele ainda não existe.

Porém, há ilações prévias que podem ser tiradas, sendo que as principais são:

* Os P5+1 fizeram um caminho mais longo desde o seu ponto de partida do que o Irão para atingir um esboço de entendimento.
* O Irão vê legitimado o essencial de 30 anos de actividades ilegais e reconhecido o estatuto de potência quase-nuclear.

Aquilo que foi alcançado no dia 2 de Abril foi um entendimento sobre vários aspectos importantes daquilo que será um acordo final, que deverá estar concluído até 30 de Junho. Faltam disposições técnicas, algumas políticas e até a interpretação comum para alguns dos aspectos do actual esboço, que poderão mudar a percepção final do documento.

A propósito de percepções, como se explica que muita gente que estava céptica, ou era contrária, ou até neutra em relação ao que estava a ser negociado venha agora mostrar alguma surpresa e até apoio ao que foi divulgado?

Imagine o leitor que lhe dizem que houve um acidente e um dos seus melhores amigos pereceu. Imagine agora que, passadas umas horas, lhe comunicam que houve um engano e que ele está apenas ferido com gravidade, mas sem risco de vida. O leitor provavelmente rejubilará e sentirá um enorme alívio. Trata-se de gestão de expectativas (neste caso não é bem porque é involuntária) e em nenhuma outra circunstância a notícia provocaria alívio e alegria.

Penso que terá sido isso, provavelmente somado à pressão exercida pela França, que terá levado ao actual desenlace. Falava-se que seria permitido ao Irão manter cerca de 10.000 centrifugadores e afinal são apenas 6.000. “Esquecido” foi o facto de que a exigência inicial era de ZERO!

Do mesmo modo, os EUA sempre classificaram de exagerada e alarmista a estimativa de Israel de que o Irão estaria a 6/12 meses do breakout nuclear. O acordo interino aponta que o breakout iraniano seja fixado nos 12 meses em vez dos 1 a 3 meses actuais. Ou seja, o exagero de ontem de Israel é hoje o triunfo negocial dos EUA. Isto na realidade já ultrapassa a mera gestão de expectativas e entra no domínio da fraude.

Contudo, mais significativo do que a gestão de expectativas que geraram a suposta boa surpresa, são as diferentes visões e interpretações que emanaram de Washington e de Teerão sobre o que terá sido exactamente acordado. Recomenda a prudência que se aguarde pelo Verão para ver e analisar o que fica efectivamente preto no branco. Sem gestão de expectativas e sem spin….






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