O FIM DA “TRANQUILIDADE AGITADA”
O Iémen em guerra.
O Iémen é mais um dos protagonistas da dita “Primavera
Árabe”, que trocou o autoritarismo pela balbúrdia e pela guerra. Não foi, obviamente,
uma troca premeditada, mas o resultado, seja no Iémen, na Síria, ou no Egipto,
não é surpreendente.
O Iémen tem um longo historial de guerras intestinas e
de intervenções externas, começando no Império Otomano, prosseguindo com a
Grã-Bretanha e o Egipto e desembocando na Arábia Saudita, para não mencionar
ingerências como as dos Estados Unidos, União Soviética e Irão.
O país conseguiu viver um período relativamente longo daquilo
que designaria, com boa vontade política e gramatical, “tranquilidade agitada”
sob a governação de Ali Abdullah Saleh (1990-2012). Quando
este abdicou em 2012, pressionado pelas convulsões da “Primavera Árabe”, o
Iémen perdeu a figura que trouxe um módico de estabilidade através de um misto
de autoritarismo centralizador, força bruta e habilidade negocial para
encontrar um equilíbrio no labirinto religioso, sectário e tribal do Sudoeste
da Península Arábica.
O seu sucessor e seu antigo vice-presidente, Abd Rabboh
Mansour Hadi não tem o mesmo poder e capacidade negocial, mostrando-se incapaz
de manter o país estável e de conter os principais focos de instabilidade. A percepção de fraqueza e vulnerabilidade
motiva os predadores e foi isso que despoletou o ataque militar dos Al-Houthi,
que passaram de uma luta localizada na sua região de Saada no Noroeste do país,
para um movimento libertador e/ou de conquista da maior parte do território
iemenita.
Desprovido do apoio de boa parte das forças militares e
de segurança que permaneceram leais a Ali Saleh, que se terá aliado aos
Al-Houthi, Hadi viu os rebeldes tomar a
capital Sanaa em Setembro e ficou, virtualmente, na posição de Presidente-refém.
Com o fracasso de sucessivas tentativas de entendimento,
Hadi demitiu-se no final de Janeiro. Dias mais tarde recuou, mas já era tarde; demitido ou em funções, o seu controlo
sobre o Iémen e a respectiva governação era pouco diferente de zero.
Remetido a prisão domiciliária primeiro, conseguiu refugiar-se em Aden. A
recente ofensiva Al-Houthi sobre a cidade obrigou-o a esconder-se e a fugir
para a Arábia Saudita, provavelmente sob protecção de forças especiais
sauditas.
Perante a vaga Al-Houthi, a Arábia Saudita decidiu
intervir militarmente no Iémen à frente de uma coligação de 10 países islâmicos
no que é, até agora, uma campanha de bombardeamentos aéreos. Como é habitual,
tal deverá revelar-se insuficiente, pelo que as principais questões que se põem
agora são:
* Conseguirão os Al-Houthi manter a sua ofensiva até agora
vitoriosa e imparável?
* Que papel
desempenhará Ali Saleh e ao lado de quem?
* Até onde
estarão os Sauditas dispostos a ir para atingir os seus objectivos?
Certo é que a “tranquilidade agitada” acabou há 4 anos. A
balbúrdia e a guerra tomaram o seu lugar. Tal é a ordem do dia no Médio Oriente.
P.S. Em 3 de Outubro de
2014, terminei o post DE 2 FEZ-SE 1, DE 1 FAZ-SE 4
E 4 = 0
(http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2014/10/de-2-fez-se-1-de-1-faz-se-4-e-4-0.html
) com a frase que se tem provado cada vez mais real:
“Enquanto os múltiplos players se preparam para os próximos
confrontos, o Iémen que já foram 2 (1967-1990), dos quais se fez 1 (1990), está
feito em 4. Neste caso, 4 = 0!”
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