19 abril, 2014

Onde Estava Eu no 25 de Abril?


ONDE ESTAVA EU NO 25 DE ABRIL?

 

 

Estava em Guimarães.

 

Em 1974 era uma criança que frequentava a Escola Primária de Santa Luzia em Guimarães e não me lembro de muita coisa do 25 de Abril de 1974. Mas tenho algumas memórias. Lembro-me de/do/da:

 

* Não ter tido aulas!

 

* Entusiasmo dos meus Pais.

 

* Cepticismo da minha Avó Laura (e também dos meus Avós paternos) e das suas memórias traumáticas do caos e desordem da I República.

 

* Gigantescas manifestações do 1 de Maio de 1974, quase unânime grito colectivo de Liberdade.

 

* Sucessão de governos e ministros. Achava fascinante e intrigante a figura dos “Ministros sem Pasta”!

 

* Multidão de partidos que foram criados.

 

* Meu irmão a sair da escola a gritar MRPP, simplesmente porque a sigla do Partido continha as suas inicias: Ricardo Pedro. Ele gostava espacialmente de gritar a sigla alternativa MRPUMPUM.

 

* Embora fosse pequeno ter escolhido cedo um partido: como era (ainda sou) Monárquico, adoptei o PPM, até me aperceber que se preocupava mais com a ecologia, o urbanismo e o municipalismo do que com a Monarquia.

 

* Sérias reservas familiares em relação ao PCP e à miríade de partidos de extrema-esquerda. A minha família era de direita e a Guerra Fria estava no auge.

 

* Sentir que tudo estava a mudar e que seria para melhor.

 

Pronto, já sabem onde estava no 25 de Abril e aquilo que me lembro da altura. Não será muito, mas é aquilo que me marcou.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Cepticismo da minha Avó Laura (e também dos meus Avós paternos) "

40 anos passados pode-se dizer que estavam certos.

Eu estava a trabalhar e pressenti o ruir de um certo Portugal que, em casa e na escola, me ensinaram a amar.

Desenganem-se aqueles que pensam que a revolução foi feita para "libertar" o povo.

O seu objectivo foi entregar os territórios ultramarinos a interesses estrangeiros.

Defreitas disse...

A Escola de Santa Luzia ! A nossa Escola, Caro Professor. Ao ler as suas recordações do 25 de Abril, comparei-as com as minhas. Nesse dia estava bem longe da nossa Terra, em missão comercial, em Detroit, USA. E foi ao barbear-me que soube do acontecimento. Tive uma imensa pena de não ter participado às manifestações de regozijo. Confesso que as lágrimas correram nos meus olhos. A liberdade, enfim ! Esta liberdade que me faltou até aos 20 anos e que abriu a porta do exílio.

A minha formação política e a recebida dos meus Pais era oposta à sua. O que prova bem que o facto de termos frequentado a mesma escola não modela forçosamente o espírito da mesma maneira. A influência da família é fundamental. Mas que importa : a liberdade de cada um, de pensar e de expressão é bela ! Só por isso já valeu a pena a Revolução.

Depois, a história escreveu-se aos solavancos. Para melhor explicar a minha opinião sobre o resultado desta Revolução, permito-me de lhe transcrever o que escrevi algures ontem.

" Vamos celebrar o 25 de Abril 1974. Devemos celebrá-lo "sempre", porque é a liberdade de dizer o que não está bem hoje, que conquistamos ontem, ao derrubar a ditadura.

A ditadura designa um regime político no qual uma pessoa ou um grupo de pessoas exercem todos os poderes de maneira absoluta, sem que nenhuma lei ou instituição não os limitem.
Por exemplo, negar ao meu Pai o direito de votar e continuar assim, até eu ser adulto, e recusar-me também o mesmo direito. O que aconteceu.

Claro que existiram e existem ainda muitas ditaduras. As boas e as más segundo o catálogo do Ocidente.

E a democracia é a grande questão actual. Uma vez a ditadura derrubada, tudo parecia indicar que o povo Português iria beneficiar de todos os benefícios que os homens da Revolução tinham idealizado.
As novas instituições da Republica deviam poder assegurar a tão desejada justiça social. A alvorada do 25 de Abril trazia o perfume dos cravos e o da liberdade enfim reconquistada.

Depois, começou outra história. Cedo se apercebeu que as democracias estavam sob o jugo da finança. Lá onde se joga a "realidade" deste mundo, camuflada, ditatorial, controlando todas as ditas democracias, através dos homens de mão , vendidos, prontos para servir, distribuindo falsos discursos, mentindo, destruindo as bases mesmo da sociedade, e servindo-se ao mesmo tempo , largamente , faustosamente, com ares de salvadores da Pátria.

No mundo que nos envolve, a globalização permitiu a criação dum monstro enorme, além de tudo o que se possa imaginar, pois que este não é um ser humano, mas uma organização legal incontrolável. O pequeno crime organizado não é nada mais que um biscoito insignificante numa trama escondida mas eleita indirectamente do crime invisível que domina o esqueleto da dita representatividade.
Eles têm os cordelinhos e nos elegemos as marionetas


Na sua fabulação narcísica, o mundo da finança chacota, agarrando o poder, por meios ainda maiores e mais enormes que as armas e as boas intenções! A História que passa, passa tão depressa, e os assassinos económicos são agora os "snippers" invisíveis engordados de maneira quotidiana.

A democracia é agora a cultura da Hiper Finança. Ela é a DEMOCRACIA. E o G20 é o esmalte empolado e lustroso.

Anónimo disse...

Olá Professor Rui Miguel!

Também me lembro que:

Fiquei imensamente feliz por ter chegado à escola e me terem mandado "caladinha e muito direitinha" para casa. Parecia que os militares tinham feito uma revolução. A minha mãe estranhou a minha chegada e soube por mim da "hipotética revolução". Não perdeu tempo. Atribuiu-me logo tarefas domésticas. Porcaria de revolução! Antes queria ter tido aulas!

No dia seguinte, lá voltei à escola. De novo para casa. Qual quê? Já tinha mais umas "informações" e fui com um grupo até à Pide na R. do Heroísmo, para ver "queimar uns carros" e dar um arraial de porrada nuns indivíduos que haviam sido uns verdugos. Fixe! Eram só novidades. Tanta gente junta, só nos arraiais. Subi para um muro de onde pudesse ver melhor tudo o que me haviam relatado, mas nada. Todos gritavam mas não me lembro oquê! Que seca! Saí e fui ver montras até Santa Catarina. Para casa é que não!

Nunca até à data me tinha apercebido da existência da política. Detestei o "evento" porque a televisão e a rádio só passavam "música de banda", tipo militar. Nadinha que eu conhecesse!

Estella