PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
OS PADRINHOS E OS AFILHADOS III
OS PADRINHOS E OS AFILHADOS III
O PADRINHO.
Esta nova situação de “Padrinhos e Afilhados” na proliferação nuclear tem uma característica significativa diferente das duas anteriormente relatadas. Em primeiro lugar, a Índia já é uma potência nuclear consumada e assumida há quase uma década, já descontando o seu teste atómico isolado realizado em 1974. Em segundo lugar, os Estados Unidos em nada contribuíram, pelo menos directa e deliberadamente, para que a Índia atingisse tal estatuto.
Embora não sejam signatários do NPT (Nuclear Non-Proliferation Treaty), a Índia e o Paquistão foram excluídos do comércio e cooperação oficiais ao nível da energia nuclear. Tal não impediu nenhum das duas potências da Ásia do Sul de desenvolver os respectivos programas nucleares e de acumularem dezenas de ogivas nucleares, mas travou o seu crescimento quantitativo e qualitativo.
Eis que, em 2006, os EUA decidem avançar para um acordo bilateral com a Índia (que ainda não está terminado e não está em vigor), que prevê o reconhecimento do status nuclear de New Delhi e permite a cooperação técnica e comercial entre os dois países na indústria nuclear civil.
É sabido que há várias diferenças entre a Índia e a Coreia do Norte e o Irão: é um país democrático, sem historial de proliferação nuclear para terceiros e é um estado organizado e estável que dará mais garantias de um (não) uso responsável de armas de destruição maciça (WMD).
Por outro lado, não é menos verdade que a Índia se tornou uma potência nuclear à revelia das normas internacionais, que desvirtuou apoio nuclear para fins civis fornecido pelo Canadá e que foi o primeiro país a desferir um rude golpe no NPT.
Os EUA, avançam para este acordo com 3 fitos: desenvolver as parcerias comerciais com o gigantesco mercado indiano (1.1 biliões de pessoas); fazer uma aproximação geopolítica com a Índia na expectativa que esta sirva de contraponto à China, tal como esta o fez no anos 70 em relação à URSS; permitir a expansão da produção de energia a partir do nuclear por parte da Índia, reduzindo a prazo a crescente pressão sobre os hidrocarbonetos.
Não obstante todos os considerandos, a realidade é que o “Padrinho” está a facilitar a integração do Afilhado prevaricador sem exigir duras contrapartidas em troca e pondo em cheque todo o edifício de não-proliferação.
Por outro lado, o “Afilhado”, prepara-se para receber um “prémio” por décadas de incumprimento com as normas internacionais sobre o armamento nuclear, por concessões escassas para continuar a desenvolver o seu arsenal nuclear e de ter acabado de testar um míssil com capacidade para carregar uma ogiva nuclear e de alcançar Pequim.
Tudo isto, resulta num incentivo para que países como o Paquistão e o Irão, procurem os respectivos “Padrinhos” e que potências nucleares com a Rússia ou a China possam considerar a possibilidade de acolherem debaixo da sua protecção novos “Afilhados” nucleares.
O AFILHADO.