26 março, 2007

Empresários Desregulados


EMPRESÁRIOS DESREGULADOS

Na falta de problemas graves que assolem a economia portuguesa, as confederações empresariais (com a honrosa excepção da do Turismo), entretiveram-se a escrever uma carta ao Primeiro-Ministro solicitando-lhe a gentileza de mudar a hora de Portugal, acertando-a com a da “Europa”.

Embora o ridículo possa matar, isso por vezes não acontece em Portugal e por isso deixo algumas considerações sobre esta iniciativa estruturante para a nossa economia.

1- Será que os problemas de (falta) de competitividade da economia portuguesa passam primordialmente, lateralmente, perifericamente, ou mesmo remotamente por uma questão de fusos horários?
2- O que é que se quer dizer com “acertar a nossa hora com a da Europa”, sabendo-se que a Europa tem 4 fusos horários diferentes?
3- Será que o facto de meia dúzia de empresários terem (será que têm?) de dormir ocasionalmente uma noite em Munique, Milão, ou Barcelona, é motivo para alterar a vida de 10 milhões de Portugueses.
4- Como se vai indemnizar as empresas que negoceiam primordialmente com o Reino Unido ou a Irlanda?
5- Como é que os Estados Unidos conseguem ser a maior potência económica mundial tendo 4 fusos horários entre o Atlântico e o Pacífico e 6 se incluirmos o Alaska e o Hawaii?
6- Se os EUA, o Japão, ou a China se tornarem os nossos principais parceiros comerciais, que fuso horário devemos adoptar? Sorteamos ou fazemos uma rotatividade anual?
7- Como é possível, numa economia globalizada, que em muitas áreas funciona 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), haver quem pense que uma volta a mais ou a menos no relógio vai mudar as nossas fortunas?
8- Como se pode ter esta visão mesquinha ao arrepio do interesse das pessoas e do seu equilíbrio natural? Sim, porque os fusos horários não são um arbítrio ou uma aberração. São uma necessária adaptação das horas ao relógio solar e, consequentemente, ao relógio biológico.

Rentabilizem as empresas, promovam a competitividade e motivem os funcionários, procurem oportunidade de negócio e novos mercados, criem marcas de sucesso, invistam em R&D, criem riqueza e deixem-se de jogos florentinos e de procurar desculpas de mau pagador.

O H4 criado pelo Britânico John Harrison em 1755 foi o primeiro relógio de precisão.
Está exposto no Greenwich Royal Observatory, referência para o primeiro Meridiano e para o fuso horário de Portugal: Greenwich Mean Time (GMT).

22 março, 2007

A Ota e os Otários

A OTA E OS OTÁRIOS


Quanto mais se fala, ouve, escreve, lê e conhece sobre o dossier do Aeroporto da Ota, mais cheira a esturro.

1- A Ota fica demasiado longe de Lisboa (50km).
2- A Ota aproxima o aeroporto de Lisboa do do Porto, "inutilizando" os voos Porto-Lisboa e desmobilizando a utilização do Aeroporto Sá Carneiro onde se tem investido (e bem) centenas de milhões de euros.
3- A Ota deveria durar 50 anos. Os últimos estudos conhecidos apontam para uma vida útil que varia entre os 20 e os 13 (!!!) anos!
4- A construção da Ota envolve dificuldades naturais e técnicas (lençóis de água, orografia difícil, quantidade colossal de remoção de terras) que se evitariam noutros sítios.
5- O Ministro das Obras Públicas e Transportes, Mário Lino, com o apoio do Primeiro-Ministro, demonstra um inusitado zelo em arrancar com as obras da Ota com a maior celeridade possível, sendo que o argumentário que lhe costumo ouvir é do tipo: é na Ota porque tem que ser e assim está decidido.
6- Ainda não estou convencido de que o Aeroporto da Ota vá custar 3 biliões de euros e que o Estado Português só “desembolse” cerca de 300 milhões. Quais são as contra-partidas e as garantias que os privados que investirem 2,7 biliões de euros vão receber de Portugal?
7- Alguém acredita que o custo se vai ficar pelos ditos 3 biliões?

O Governo é rosa, mas para o caso podia ser laranja, azul, vermelho ou verde: a realidade é que estou convencido que a opção pela Ota e já não serve o interesse nacional. Parece-me também óbvio que serve alguns interesses (não necessariamente ilegítimos), mas o Governo tem de pôr os interesses da nação acima dos restantes. É, aliás, isso que Sócrates apregoa quando arremete contra os interesses “corporativos” de professores, funcionários públicos, polícias, militares, povoações que perdem serviços públicos, especialmente no domínio da saúde, etc, etc.

No entanto, este fervor parece diluir-se quando se fala na Ota e não consigo afastar a desagradável sensação de que a Ota vai ser feita à custa dos otários do costume, ou seja, da generalidade dos Portugueses.



14 março, 2007

O Pós-Referendo

O PÓS-REFERENDO

A Assembleia da República está a ultimar a nova legislação sobre o aborto, consagrando a liberalização do aborto até às 10 semanas, consoante o resultado do Referendo do dia 11 de Fevereiro.

Previsivelmente, o assunto foi assumido por uma frente de esquerda constituída por PS, PCP e BE, que legislaram em conjunto e em exclusivo.

Igualmente de forma previsível, estes partidos rejeitaram quaisquer medidas que pudessem constituir um elemento dissuasor da prática do aborto.

Até aqui, tudo normal, dado que foram os partidos que lutaram pelo Sim no Referendo e há muito tinham feito da liberalização do aborto um cavalo de batalha.

Surpreendentemente, Deputados do PSD que votaram Sim e por ele fizeram campanha, manifestaram-se chocados por não terem sido convidados a participar ma formulação da lei e pela recusa da frente de esquerda em introduzir o aconselhamento obrigatório de cariz dissuasor à grávida.

Sem pôr em causa a opção de voto de cada um, as pessoas do PSD que integraram movimentos sócio-políticos a favor do Sim, eram uma espécie de corpos estranhos que serviam de showcase da abrangência do Sim, e cuja utilidade terminou no dia do Referendo. A partir daí, era óbvio que a frente de esquerda iria tomar as rédeas do processo e não teria nenhum interesse em partilhar os louros da liberalização. Aqueles que hoje estão chocados, ou foram ingénuos, ou procuraram um protagonismo que, naturalmente, não lhes foi dado. Que sirva de lição.

Não obstante, 21 dos 75 Deputados do PSD votaram a favor da nova lei. Custa a compreender que, depois de terem considerado o projecto radical, ainda tenham votado a favor. Apesar da questão de consciência que aqui está presente, não deixa de ser relevante o facto de 28% do Grupo Parlamentar do PSD ter votado ao arrepio do sentido de voto da grande maioria da sua base social de apoio. Que sirva de tema de reflexão.

P.S. O tema do Referendo foi abordado anteriormente neste Blog no dia 08/02/07: “Referendo”



07 março, 2007

O Regresso de Paulo Portas

O REGRESSO DE PAULO

Sem querer dar uma componente bíblica ao Blog e, muito menos, à política em Portugal, o certo é que, uns meses depois de aqui publicar o post “O Regresso de Pedro”, avanço hoje para “O Regresso de Paulo”. Se aquele era Santana, este é Portas.

Paulo Portas deixou “correr” a primeira metade de uma longa legislatura, politicamente desertificada por uma total ausência de eleições entre Janeiro de 2006 e Outubro de 2009 e pela existência de uma maioria absoluta mono-color no Parlamento.

Verificou há muito que as oposições, especialmente a Laranja e a Azul, têm lideranças e estilos pouco carismáticos (diria mesmo anti-carismáticos), pouco combativos, pouco propositivos, incapazes de arrebatarem ou mobilizarem os fiéis e, muito menos, os neutros.

Como diz o anúncio, “Uns têm, outros não!” e Paulo Portas tem todos estes ingredientes: capacidade de liderança, carisma, combatividade, criatividade, capacidade para detectar temas/propostas que tocam o eleitorado, é mobilizador e gera lealdades que resistem ao desgaste do tempo e das agruras de uma longa caminhada política.

Paulo Portas vê Ribeiro e Castro e Marques Mendes perdidos no deserto e percebe que tem uma oportunidade de ouro de chegar ao oásis sem concorrência no lado direito do eleitorado, maximizando as virtudes próprias e as carências alheias. Por isso tem pressa. As janelas de oportunidade não costumam estar abertas muito tempo. Afastando os obstáculo internos até à Páscoa e apostando que o PSD continuará na “apagada e vil tristeza” até meados de 2008, Portas tem 12 a 18 meses para fazer um solo de oposição, mostrando ao acabrunhado Portugal uma cena política-parlamentar-mediática protagonizada por Sócrates e ele próprio.

Para um CDS que teve 7% em 2005, este cenário pode ser um bónus eleitoral sem precedentes recentes. Para o PSD, que teve 28% em 2005 e daí não parece conseguir sair, isto pode anunciar o prolongamento da letargia que o conduz de forma lentamente para a irrelevância a médio prazo.

Tudo isto não significa que Portas esteja prestes a iniciar uma marcha triunfal: o caminho que tem pela frente é duro e difícil, desde logo porque parte com o handicap da (pequena) dimensão do CDS a que se soma o da infinita capacidade de perdão do eleitorado português e a atracção fatal do voto útil.

Agora que o timing do regresso de Paulo Portas parece asado e criteriosamente escolhido, isso parece. Finalmente, está provado que é um erro subestimar o animal político que é Paulo Portas. Quem o fizer, arrisca-se a ter uma má surpresa.
 

02 março, 2007

Bento


BENTO




Bento: figura mítica do Benfica. Realizou 465 jogos oficiais de Águia ao peito, que o coloca como 6º jogador e 1º guarda-redes com mais jogos feitos pelo Benfica.
  in http://www.diariodobarreiro.pt/Primeira%20Pagina/xartigo4.asp?idd=706

Um dia de Setembro nos anos 70, estava a brincar em casa na companhia da Avó Laura enquanto ouvíamos o relato do Torpedo Moscovo – Benfica para a Taça dos Campeões Europeus. Na Luz o resultado fora de 0-0, o que na altura não era muito promissor.

O certo é que o Benfica resistiu aos “Torpedos” e aguentou o 0-0 até ao final do prolongamento. Nos penalties, Torpedo, 1 – Benfica, 4. Manuel Bento, que havia feito uma exibição portentosa durante os 120 minutos, defendeu 2 penalties e marcou o 4º e decisivo golo. No dia seguinte, o “Primeiro de Janeiro” titulava: “S. Bento da Porta Fechada que nem os Penalties Conseguiram Abrir!”


Bento troca galhardetes com o capitão da Sampdoria em jogo da Taça das Taças de 1985/86 no Estádio da Luz, que o Benfica venceu 2-0 (golos de Diamantino e Rui Águas). in http://www.maisfutebol.iol.pt/

Começou nesse dia a construir-se, para mim, uma lenda do Benfica e do futebol. Durante a década seguinte, foram incontáveis as vezes em que vi Bento a “salvar” o Benfica e a Selecção Nacional com defesas “impossíveis”, reflexos fantásticos, agilidade e muita coragem.

O famigerado Mundial 1986 praticamente pôs um ponto final numa carreira brilhante, recheada de títulos colectivos e individuais.


Bento foi 63 vezes internacional por Portugal.
  in http://www.maisfutebol.iol.pt/

Hoje terminou a vida de Bento. Para mim e para muitos, fica a memória de um guarda-redes de excepção, o melhor Português que eu vi jogar na baliza. Termino esta pequena homenagem com a imagem que guardo de Bento: a de um Campeão.


Bento, Capitão do Benfica, ergue no Jamor uma das 6 Taças de Portugal que conquistou. Final da edição de 1984/85: Benfica, 3 - Porto, 1 (golos de Nunes e Michael Manniche-2)
in
http://www.maisfutebol.iol.pt/
P.S. Há um par de anos atrás, também nos deixou precocemente outro extraordinário guarda-redes português: Vítor Damas. Sendo um ícone do Sporting, era um keeper de valor superior e com um estilo elegante, que também admirei. Damas, que também vi jogar pelo Vitória de Guimarães, é outro jogador que deixou saudades.