EMPRESÁRIOS DESREGULADOS
Na falta de problemas graves que assolem a economia portuguesa, as confederações empresariais (com a honrosa excepção da do Turismo), entretiveram-se a escrever uma carta ao Primeiro-Ministro solicitando-lhe a gentileza de mudar a hora de Portugal, acertando-a com a da “Europa”.
Embora o ridículo possa matar, isso por vezes não acontece em Portugal e por isso deixo algumas considerações sobre esta iniciativa estruturante para a nossa economia.
1- Será que os problemas de (falta) de competitividade da economia portuguesa passam primordialmente, lateralmente, perifericamente, ou mesmo remotamente por uma questão de fusos horários?
2- O que é que se quer dizer com “acertar a nossa hora com a da Europa”, sabendo-se que a Europa tem 4 fusos horários diferentes?
3- Será que o facto de meia dúzia de empresários terem (será que têm?) de dormir ocasionalmente uma noite em Munique, Milão, ou Barcelona, é motivo para alterar a vida de 10 milhões de Portugueses.
4- Como se vai indemnizar as empresas que negoceiam primordialmente com o Reino Unido ou a Irlanda?
5- Como é que os Estados Unidos conseguem ser a maior potência económica mundial tendo 4 fusos horários entre o Atlântico e o Pacífico e 6 se incluirmos o Alaska e o Hawaii?
6- Se os EUA, o Japão, ou a China se tornarem os nossos principais parceiros comerciais, que fuso horário devemos adoptar? Sorteamos ou fazemos uma rotatividade anual?
7- Como é possível, numa economia globalizada, que em muitas áreas funciona 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), haver quem pense que uma volta a mais ou a menos no relógio vai mudar as nossas fortunas?
8- Como se pode ter esta visão mesquinha ao arrepio do interesse das pessoas e do seu equilíbrio natural? Sim, porque os fusos horários não são um arbítrio ou uma aberração. São uma necessária adaptação das horas ao relógio solar e, consequentemente, ao relógio biológico.
Rentabilizem as empresas, promovam a competitividade e motivem os funcionários, procurem oportunidade de negócio e novos mercados, criem marcas de sucesso, invistam em R&D, criem riqueza e deixem-se de jogos florentinos e de procurar desculpas de mau pagador.
O H4 criado pelo Britânico John Harrison em 1755 foi o primeiro relógio de precisão.
Está exposto no Greenwich Royal Observatory, referência para o primeiro Meridiano e para o fuso horário de Portugal: Greenwich Mean Time (GMT).