DÉJÀ VU
A evacuação desesperada da embaixada norte-americana em Saigão em 1975 através dos helicópteros Huey, é o ícone dos fiascos nos envolvimentos externos dos EUA.
Desde o final do século XIX, há mais de 120 anos, que os Estados Unidos da América intervêm em países estrangeiros, nuns casos ocupando-os, noutros, a grande maioria para derrubar governos, castigar esses países, deter forças estrangeiras que retirem o país atacado da esfera de influência dos EUA ou impor os seus ditos valores políticos, humanitários e económicos, aquilo que designam por nation building.
Olhando em retrospectiva, verifica-se que nos últimos 60 anos foram frequentes os fiascos em que os EUA se envolveram.
BAÍA DOS PORCOS, CUBA, 1961
Exilados cubanos capturados pelo Exército Cubano.
O desembarque na Baía dos Porcos arquitectado pela CIA e visando o derrube do regime Castrista terminou com a morte ou a captura da maioria dos exilados cubanos recrutados: Volvidos 60 anos, o regime implementado por Fidel Castro continua firme e resiliente. O assalto falhou em toda a linha em escassos 3 dias.
Fidel Castro recorreu aos tanques T-34 para esmagar a invasão.
SAIGÃO, VIETNAME DO SUL, 1975
Tropas do Vietname do Norte apoderam-se do Palácio Presidencial do Vietname do Sul.
Copyright: Francoise De Mulder—Roger Viollet/Getty Images
Os Estados Unidos retiraram do Vietname do Sul após uma década de combate contra o Vietname do Norte/Vietkong. A 5 de Março de 1975, a CIA e o Exército americano publicaram um memorando prevendo resistiria pelo menos até 1976. Saigão caiu a 30 de Abril 1975.
TEERÃO, IRÃO, 1979
444 dias!
Reféns de 4 de Novembro 1979 até 20 de Janeiro 1980.
Um bando de estudantes militarizados invadiu a Embaixada dos EUA em Teerão onde fizeram 52 reféns. O Presidente Carter lançou uma operação de resgaste que falhou miseravelmente: um helicóptero americano chocou contra um avião de transporte, causando a morte de 8 soldados americanos. A Operação Eagle Claw abortou.
O assalto à Embaixada.
Finalmente, 444 dias após o rapto, os reféns foram libertados, no dia em Ronald Reagan ascendeu a Presidente dos EUA.
MOSUL, IRAQUE, 2014
Abu Bakr Al-Baghdadi anuncia a ressurreição do Califado Islâmico na Mesquita Al-Nuri em Mosul.
A estabilização, organização e democratização do Iraque foi colocada em cheque com a retirada dos EUA do Iraque em 2011. Em 2014, o ISIS lançou um blitzkrieg no Iraque e depois na Síria, culminando com a conquista de Mosul, a 2ª maior cidade do Iraque. Invariavelmente, o Exército iraquiano, treinado e armado pelos EUA soçobrou em toda a linha, sendo aniquilado ou fugindo. O Iraque falhou miseravelmente e a Obamaização do Médio Oriente foi o seu corolário. Três anos após a retirada, lá voltaram as tropas americanas para tentar salvar o Iraque. Sem surpresa, o BHO tratou de estragar as operações militares em três teatros diferentes em que se envolveu: Iraque, Líbia e Síria.
Qual mancha de café, o Califado foi-se espalhando, ameaçando o fim do Acordo Sykes-Picot.
Sem surpresa, o BHO tratou de estragar as operações militares em três
teatros diferentes em que se envolveu: Iraque, Líbia e Síria. O seu wingman tratou de dar sequência à sequela, no Afeganistão.
CABUL, AFEGANISTÃO, 2021
E tudo os Taliban levaram…
E agora, Cabul e quase todo o Afeganistão. As movimentações militares dos Taliban começaram em meados de Abril, intensificaram-se a partir de Julho e em Agosto transformaram-se num verdadeiro Blitzkrieg que terminou com a conquista de 32 das 34 províncias do Afeganistão quando os Taliban ocuparam Cabul com tranquilidade, enquanto os outros, em vez de resistir, optaram por fugir.
Joseph Biden foi apanhado desprevenido (no surprise) quando num espaço de menos de duas semanas, Cabul caíra e o Afeganistão era dos Taliban. Não aprendeu com s antecessores, nem com os seus próprios erros. Depois, foi o rush, rush para salvar o que e quem fosse possível, no meio de uma turba desorientada e desesperada, condicionados pelos DDT, os Taliban, e pela ameaça, concretizada, do IS-K. Uma trapalhada: desvalorização do avanço Taliban e do desmoronar do Exército Afegão; uma evacuação feita em desespero e na qual milhares ficaram em terra, a dependência dos Taliban (ironia do destino) para viabilizar a evacuação, um atentado terrorista que resultou numa carnificina, malgrado os alertas de um ataque iminente, tudo rematado com uns tiros de pólvora seca para disfarçar o desastre.
Centenas de Afegãos tentam entrar ou trepar para um C-17 norte-americano que vai levantar voo.
Apesar dos fiascos, assim prossegue a saga americana de tentar formatar, condicionar, alterar os costumes, a política, a gestão de países terceiros, em nome do nation-building, dos direitos humanos, de uma sociedade e uma economia à medida dos EUA e, sobretudo, da sobranceria da sua auto-atribuída superioridade universal. Déjà vu!
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