22 janeiro, 2013

E Se Acabássemos Com as Reformas?

E SE ACABÁSSEMOS COM AS REFORMAS?

 
Ponto prévio 1: as reformas são algo a que temos direito. Descontamos toda uma vida de trabalho e temos direito a elas. Pouco importa se o dinheiro das nossas reformas advém dos nossos descontos, dos nossos pais ou dos nossos filhos. Descontamos, ponto.


Ponto prévio 2: os descontos e, consequentemente, as reformas, não são escolha nossa. São-nos impostos pelo Estado. O montante, a forma e a consequência, tudo resulta do exercício do poder coercivo do Estado.


Ponto prévio 3: está claro aos olhos de todos que o Estado não pode e não quer pagar e não paga mesmo as reformas a que os reformados actuais têm direito. E fá-lo no exercício unilateral e arbitrário do seu império.

O que resulta desta análise prévia?

Resulta que:

1-   Descontamos para que nós, os nossos familiares, os nossos concidadãos possam usufruir de um conjunto de apoios sociais, maxime as reformas.

2-   O Estado, que nos obriga a fazer esses descontos, não quer ou não pode cumprir a sua parte do pressuposto do desconto que é a posterior compensação.

3-   Fazemos figura de otários, pagando por algo que cada vez menos recebemos até ao ponto em que deixaremos de receber.

4-   Ainda somos maltratados por um energúmeno que lidera (?) o governo e que ataca verbalmente os pensionistas como se eles roubassem o Estado e como se receber uma reforma de 1350 ou 2000 euros fosse uma ofensa e um absurdo.


Perante este cenário, pergunto:
 
Não seria melhor abdicarmos de receber as reformas que porventura nunca receberemos?
 
Não seria melhor deixarmos de descontar e ficarmos entregues a nós próprios neste âmbito?
 
Vantagens:
 
1-   Teríamos mais rendimento disponível mensalmente.

2-   Deixaríamos de atirar tanto do dinheiro ganho com o nosso esforço para esse sorvedouro sem fundo que é o Estado.

3-   O governo ficava livre desse encargo com as reformas. Teria, é claro, o inconveniente de passar a ter menos oportunidades de roubar os cidadãos.

4-   O governo poderia aliviar substancialmente a máquina burocrática estatal e, consequentemente, a prazo, a despesa.

5-   Cada um poderia planear e dimensionar a sua reforma como lhe aprouvesse, ciente de que o seu futuro dependeria da sua competência a executar tal tarefa.

6-   Todos faríamos um pequeno desconto para a Segurança Social (2%/3%) para que o Estado pudesse dar apoio àqueles mais desprotegidos e vulneráveis que não tivessem comprovadamente meios para o fazer por si mesmos.

Et voilá!

Mais dinheiro na carteira.

Mais responsabilidade.

Menos interferência/incompetência/irresponsabilidade/má-fé estatal. Mais certeza e escolha sobre o que, o quando e o como receberemos.

Sem Reformas. Sem Descontos.

11 comentários:

Anónimo disse...

Dos políticos sim e já.
Dos trabalhadores porquê ?
Se forem geridas pelos próprios (e bem) como penso que já foram não vejo razão para acabarem.

João Figueiredo disse...

Rui,

Não me parece que a abolição total de descontos para a reforma seja uma solução.

Repara: numa situação em que não haja descontos, o que me leva a crer que o meu vizinho pega no valor que descontava até agora e o coloca no banco ou debaixo do colchão, para precaver a idade da reforma? E se, realmente não o fizer? Os 2%/3% de que falas não chegam para toda a gente.

A meu ver, o problema passa por repensar todo o sistema de empregabilidade (nomeadamente o que cada cidadão é capaz de realizar em cada faixa etária) e pela idade de reforma (tendo em conta a esperança de vida actual). Por exemplo, um cidadão poderia optar pelo número de horas que pretende ou pode trabalhar e seria remunerado consoante essas horas.

Por outro lado, e pegando na tua ideia, poderia haver um sistema misto, em que o cidadão desconta uma percentagem para o Estado e uma outra para um sistema privado, escolhido pelo próprio.

João Figueiredo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Olá Doutor Rui Miguel

Como não sei se gravei o comentário, aqui vai ele:

Dada a situação de falência, descontrole e falta de transparência na despesa pública, estou de acordo que devemos ser nós os guardiões do que é nosso e da sua aplicação, cientes de que colheremos o que semearmos (lembro-me da história da galinha que trabalhou a terra, semeou, colheu, cozinhou, sempre só, mas quando foi para usufruir do fruto do seu trabalho, todos queriam uma parte.
Pior que o governo não faremos certamente. De uma maneira geral, todos (sou da década dos 50) fomos habituados a não gastar mais que aquilo que dispomos e ainda a fazer uma provisão para a velhice. Os nossos descontos diluem-se num rio que ninguém percebe onde vai desaguar. Dadas as provas de incompetência e desonestidade dos consecutivos governos, está na altura de mudar o sistema e cada um gerir os seus descontos, contribuindo com um pouco para aqueles a quem o infortúnio impediu de fazer o mesmo.
Como só domino a economia doméstica, gostava que alguém me respondesse a algo que não entendo e que me levanta uma grande dúvida: como é que um país vende uma empresa que tem sempre lucros fabulosos (EDP), quando podia distribuir esse rendimento pelos seus cidadãos, especialmente os mais desvavorecidos? Alguém mata a galinha que dá ovos de ouro? Porquê que só distribui por nós os prejuízos daquelas que são mal geridas e que abusivamente remunera os seus dirigentes? Tanta "coisa pública" mal...

Beijinhos

Estella

Sérgio Lira disse...

Rui: seria lindo, seria... tu, e eu, (e mais quantos?) pouparíamos (não viveríamos acima das nossa posses) e teríamos a NOSSA reforma (suadinha, honesta, limpinha). Mas ao nosso lado está um paspalho, um cabrão, um energúmeno, que em novo andou a dar umas voltas com umas gajas, engravidou uma, depois increveu-se numa "J" qualquer, fez pandilha com um bandalhos, trafulhou, etc. etc. - poupo-te ao detalhes - e, no ocaso da vida, está falido, pobre, miserável (não sabia onde ficavam as Caimão, porque em puto na escola foi um calaceiro do catano...) e a morre de frio, de fome e de caganeira. E agora? é deixar o pobre esticar o pernil à porta do hospital? eu sei, eu sei, a ideia é atractiva... mas caramba, "não se faz nem a um cão" (principalmente a um cão). Por isso, meu caro, seríamos os otários, na mesma, sempre e sempre.

Defreitas disse...

Sinto uma profunda tristeza por tudo aquilo que leio nestes últimos tempos sobre a nossa Terra. Eu sabia que os Portugueses tinham e têm muitas qualidades humanas, indesmentíveis, e a História demonstra-o. Éramos pequeninos e tivemos muita coragem nos séculos passados para fazer coisas incríveis. Em condições normais, somos capazes de rivalizar com não importa qual outra nacionalidade, no trabalho bem feito, na aplicação e na imaginação para criar oportunidades. Somos mesmo capazes de sofrer para atingir os resultados esperados. Mas não sabia que um dia chegaríamos lá, onde estamos hoje. E sobretudo não sabia que Portugal podia albergar tantos criminosos económicos e tantos aldrabões políticos de todas as cores . Ainda bem que há alguns que procuram acordar-nos da letargia profunda na qual mergulhamos.Mas quantos ? A massa amorfa é imensa e sem bases, incapaz de formular uma ideia ou simplesmente pensar.Pagamos por meio século esbanjado em falsos valores de sociedade, sem ver que o mundo acelerava para outros objectivos. Sem estructuras , vai ser dificil reconstruir.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Anónimo,
Não, não são geridas nem pelos próprios, nem bem.

Rui Miguel Ribeiro disse...

João Carlos,

A tua preocupação tem razão de ser. A resposta passaria pela responsabilização individual. Se o teu vizinho é crescidinho, pode votar, conduzir, trabalhar, casar, ter filhos, poderá capacitar-se que colherá o que semeou.
Tenho consciência de que nos depararíamos com um contingente de irresponsáveis, com 70 anos e sem $$$ para mandar cantar um cego. Não seria fácil ferir essa situação.
O sistema misto seria uma melhoria em relação ao que temos hoje, bem como contas individuais, que permitissem a cada um ter a todo o momento ter a percepção de quanto é que tem direito a receber.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cara Estella,

Subscrevo o seu ponto de vista.

Quanto à EDP, nós só somos "accionistas" quando se trata de pagar. É um péssimo negócio ser "accionista" do Estado Português. É como aquelas empresas cujos administradores se auto-cumulam com bónus chorudos...

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sérgio,

Pois a ideia seria que o desenlace "atractivo" da tua narrativa servisse de dissuasão para os descarrilados. Agora a nossa sociedade não tem frieza para tal, mas se esses indivíduos ficassem cingidos a uma pensão de subsistência, suficiente para não "esticar o pernil" mas escassa para "fazer flores", poderia ser uma consequência razoavelmente severa e económica.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro Sr. Freitas Pereira,

A sua análise tem tanto de deprimente como de realista, sóbria e correcta. É o estrebuchar da III República...