14 março, 2012

O Sr. Pereira e o Coelho do País das Maravilhas

O SR. PEREIRA NO PAÍS DAS MISÉRIAS
E O COELHO DO PAÍS DAS MARAVILHAS

Álvaro Pereira era, aparentemente, uma das grandes apostas do XIX Governo. Até ver, é um dos grandes flops.

O Senhor Pereira é um fundamentalista das horas:

·         São as horas que o comboio leva a chegar a Madrid que o preocupam. Sobre as reais intenções e decisões do Governo sobre o famigerado TGV pouco mais se sabe do que umas fugas para os jornais.
·         São as horas de encerramento do metro que era para antecipar e depois já não era (até porque atrapalhava o plano de pôr as pessoas a trabalhar mais horas).
·         São as meias horas extra e de borla que o Sr. Pereira quer impor aos Portugueses, mesmo contra as reservas dos empresários.
·         São as horas/dias extra que decorrem da abolição dos dias de férias de prémio de assiduidade.
            .    São as horas de trabalho extra e gratuitas decorrentes da extinção   caprichosa de feriados.
                                             



O Coelho de Alice no País das Maravilhas (Lewis Caroll)

E o que mais adiante se verá. O Sr. Pereira parece o Coelho da Alice no País das Maravilhas. Sempre a corre com o relógio na mão, mas não fazendo nada de útil. Infelizmente, enquanto o Coelho vivia no País das Maravilhas, o Sr. Pereira inferniza-nos no país das misérias.

O Senhor Pereira no País das Misérias que ele vai ajudando a agravar.

O Sr. Pereira está convencido de que a competitividade é um valor que decorre apenas de factores quantitativos: trabalhas 9h/dia em vez de 7, produzes mais. Trabalhas Sábados, Domingos e feriados, produzes mais. Comes e dormes no local de trabalho, produzes mais.

Os ganhos de produtividade que decorrem da superior formação, ou os horários e cargas laborais que proporcionam melhor qualidade de vida e melhor rendimento no trabalho não contam. Não, porque o Senhor Pereira, tal como o coelho (não o Passos, mas o da Alice) não larga o relógio e, para ele, só o relógio conta.

A extinção de feriados é, porventura, o golpe mais miserável do Sr. Pereira. Alheio aos valores históricos, religiosos e culturais de Portugal e dos Portugueses e à necessidade que, mesmo em tempo de crise, todos têm de usufruir de momentos de lazer, o Sr. Pereira arremete contra os feriados.

O Sr. Pereira alternadamente, queixa-se de ser maltratado por ter sido emigrante e gaba-se de ter vivido e trabalhado em Vancouver, no Canadá. Não tenho nenhum problema com isso. Só que, ao contrário da maioria esmagadora dos emigrantes, o Sr. Pereira fez delete de muitos dos valores tradicionais portugueses. Se assim é, em vez de ter regressado, podia ter dado um pulinho um pouco mais para oeste e estacionar numa região mais de acordo com as suas ideias.

Enquanto não vai para a China, o Sr. Pereira foi despromovido, perdeu um Secretário de Estado e começa a perder espaço político dentro e fora do Governo.

O relógio continua a fazer tic-tac, também para o Sr. Pereira.


P.S. O episódio da demissão de Henrique Gomes, Secretário de Estado da Energia, por ver bloqueado o seu esforço para reduzir a rentabilidade excessiva do sector energético (a expensas do Estado) na produção de energia, veio confirmar o que já se sabia: esmifrar dinheiro dos cidadãos é bom e fácil. Cortar despesas, ainda mais se for à custa da EDP e quejandos é que não. Eles podem zangar-se…. Os nossos governantes são sempre corajosos e intransigentes…com os indefesos.

P.P.S. Passos Coelho foi encostado às cordas por Francisco Louçã em pleno Parlamento por causa das portagens das pontes sobre o Tejo e da Lusoponte. Quem diria: o senhor anti-pontes, espalhou-se em duas pontes. Ironia do destino…

3 comentários:

Ricardo Lima disse...

O Sr. Pereira é mais um aluno daquelas escola que forma economistas que acham que a economia se planeira a régua e esquadro nos gabinetes do ministério. Que faz meia dúzia de contas, com horas, com impostos e etc e acha que daí advém um resultado formidável.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Assim é. Mas é mais (ou menos) do que isso: acha-se um iluminado que veio do Canadá para reformar a parvónia e que se irrita por as pessoas não gostarem.

Anónimo disse...

Dear Miguel

If the translation is understood correctly, it appears that the actions of Mr Pereira are the desperate swan-song of a career on the brink. This is seen a lot around Europe at the moment as the rapid fall into deeper and deeper recession create acts of misguided desperation. We await the outcome.

Elaine