A PERGUNTA DO ANO
A Pergunta do Ano de 2012 é: haverá guerra no Irão?
Não sou vidente, portanto não posso fazer mais do que an educated guess, mas dada a relevância e impacto da questão, vou analisar as motivações, objectivos e constrangimentos dos 3 actores mais pertinentes nesta equação: Irão, Estados Unidos e Israel.
O ponto de partida é, obviamente, o programa nuclear iraniano e a sua vertente militar.
in “Stratfor”
IRÁ O IRÃO CEDER?
Não. O Irão teve múltiplas janelas de oportunidade para chegar a um acordo com o grupo negociador P5+1 (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China + Alemanha) em bases que lhe permitiam salvar a face e manter um programa nuclear civil sob controle internacional e sempre as recusou. Uma década de negociações mostrou que Teerão vai negociando, protelando, adiando e prosseguindo com o desenvolvimento do seu programa.
AS SANÇÕES RESULTARÃO?
Dificilmente. As sanções têm sido endurecidas nos últimos meses, mas o Irão está sujeito a sanções internacionais há 6 anos e o seu comportamento não se alterou. Por um lado, há países que as cumprem relutantemente, ou seja, de forma limitada e outros que as ignoram; por outro lado, o regime tem-se mostrado disponível para acarretar o custo das sanções em nome do objectivo de prosseguir o seu programa nuclear. As sanções não se apresentam como uma solução provável para conseguir cedências significativas de Teerão em tempo útil.
in “The Economist”
OS EUA ATACARÃO?
Não creio. A Administração Obama está a apostar tudo nas sanções que tem vindo a impor com o apoio dos aliados europeus e alguma colaboração dos aliados asiáticos (Japão e Coreia do Sul), mas a lentidão dos seus resultados conflictuam com o avanço inexorável da ameaça nuclear iraniana.
A resposta é condicionada por outro aspecto que considero vital: as eleições presidenciais norte-americanas. Como já foi aqui defendido (check “A Guerra que Já Era” at http://tempos-interessantes.blogspot.pt/2012/02/obamas-wars-3-guerra-que-ja-era-este.html, Barack Obama põe a sua reeleição na primeira linha de considerações em matéria de política externa. Assim sendo, um ataque ao Irão em ano eleitoral, com repercussões negativas na sua base social de apoio e, principalmente, com o subsequente aumento do preço dos hidrocarbonetos, virtualmente exclui a opção do ataque das considerações da Casa Branca.
Também não é por acaso que Washington insiste na tecla de “all options are on the table”, mas as red lines que definem os limites do tolerável são suficientemente vagas para colocarem poucos travões ao avanço do programa nuclear do Irão; ou seja, o Irão pode avançar em várias frentes do seu programa ficando muito (demasiado?) perto de alcançar a arma nuclear, até despoletar uma reacção armada dos Estados Unidos. As diferenças da retórica norte-americana em relação à questão nuclear e à ameaça de encerramento do Estreito de Ormuz, dizem muito sobre a escala de prioridades de Washington e, mais uma vez, sobre o impacto de cada decisão sobre o preço do petróleo.
E ISRAEL?
Talvez. Esta é a variável-chave, porque é a mais difícil de prever. Israel tem feito uma escalada retórica indiciando um ataque iminente. No entanto, Jerusalém também joga com as percepções: não só pode intimidar o Irão, como, principalmente, vai condicionando as opções dos EUA. À medida que a retórica belicosa vai subindo de tom, aumenta a pressão sobre os EUA e o P5+1 para pressionar o Irão a fazer cedências que possam evitar a guerra.
Ao contrário do “all options are on the table” de Obama, as ameaças de ataque vindas de Israel têm credibilidade externa. Mais, também têm sustentabilidade interna. Israel tem curriculum estabelecido na matéria, com ataques aéreos bem sucedidos contra os programas nucleares do Iraque (1981) e da Síria (2007) e tem motivações bem fortes que, em última análise se podem resumir numa palavra: sobrevivência. O Irão será um alvo bem mais complexo, pela distância, pelo número de alvos ( ver mapa supra), pela capacidade defensiva activa e passiva, pela relativa ausência do elemento surpresa e ainda pelo potencial retaliatório. Contudo, nada disto será decisivo se Israel concluir que no outro prato da balança está a sobrevivência do estado judaico.
O Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu já afirmou diversas vezes que não admitirá que os Israelitas vivam sob a sombra de um novo holocausto. E o Ministro da Defesa Ehud Barak, no dia 2 de Fevereiro introduziu um novo conceito no debate: “Today, as opposed to the past, the world has no doubt that the Iranian militar nuclear program is steadily approaching maturity and is about to enter the zone of immunity, after which the Iranian regime will be able to complete the program without effective interruption and at a time it finds convenient.” Ou seja, Israel considera que o Irão se aproxima do ponto em que terá a componente militar ou militarizável do seu programa suficientemente fortificada para não temer ataques destruidores. A partir desse momento, gozará de imunidade.
Para Israel, o melhor seria os EUA assumiram o ónus do ataque: os custos políticos seriam deflectidos para Washington e, principalmente, as probabilidades seriam maiores dada a superior capacidade e dimensão dos meios norte-americanos.
Contudo, para Israel, as red lines são bem claras; iminência da fortificação do cerne do programa nuclear e/ou aproximação do momento em que o Irão poderá atingir o limiar do nuclear. Quando uma destas coisas acontecer, a minha previsão é que Israel atacará, com ou sem os Estados Unidos.
E esse momento poderá não estar muito distante. Citando novamente Ehud Barak: “Whoever says ‘later may find that later is too late.”