07 outubro, 2011

Crato e Crasso

CRATO E CRASSO


O assunto não é novo. Mas ainda é recente e a indignação que me provocou faz com que ainda teça umas breves considerações sobre ele.

General Marco Crasso (115 A.C. – 53 A.C.), membro do Primeiro Triunvirato com Júlio César e Pompeu, morreu na Batalha de Carras, frente aos Partos, na qual cometeu uma série de erros….crassos.



O corte da componente monetária dos prémios de mérito aos alunos do ensino secundário é um erro crasso de Nuno Crato. Esta atitude tem várias componentes extremamente negativas:
1-   MESQUINHEZ – Num tempo de austeridade, mas em que ainda se vêm poucos cortes e muitos aumentos de receitas (impostos, taxas, preços), cortar um prémio que no seu total representaria umas dezenas de milhares de euros, é uma gestão à Tio Patinhas ou Ezbener Scrooge – unhas de fome, mesquinho e absolutamente inconsequente.
2-   ATAQUE AO MÉRITO – Ao transformar o prémio à excelência dos alunos num subsídio à escola para financiar projectos que “a todos” beneficiasse, Crato, consegue duas coisas: não faz nada relevante, pois 500 euros numa comunidade escolar significará pouco, e mostra aos alunos de mérito que o seu esforço resulta na “nacionalização” do prémio, distribuindo-o por todos, o excelente, os bons e os medíocres. Estes, continuarão a sê-lo, incentivados pela cultura estatal reinante do apoio ao coitadinho.
3-   CINISMO – Retirar o prémio 3 dias antes da entrega é cruel. Reduzir tudo a um problema de comunicação é desonesto e cínico. O mínimo que se esperaria do Ministro da Educação seria um pedido de desculpa e humildemente admitir o erro, repor o prémio e anunciar, se assim o entendesse, o cancelamento do mesmo para 2012.

Resumindo, foi um desastre total. Estes jovens de valor provavelmente estarão a pensar em que países é que o mérito é incentivado, valorizado e premiado e nós continuaremos a ser governados pelos niveladores por baixo, até porque a excelência pode sempre ser uma ameaça….para os medíocres.

2 comentários:

Sérgio Lira disse...

Rui, não poderia estar mais de acordo, foi uma patada sem tamanho, uma vergonha sem nome, uma indignidade - diria até "irremediável": a perda de confiança é definitiva.

Mas, pela idade deste ministro havera uma explicação: ainda se deve recordar (com saudade?) dos tempos do PREC em que a classificação de cada aluno se obtinha somando as de todos os da turma e fazendo a média...

... ou de quando era "vergonhoso" ter boas notas, porque isso era "elitista", "fascista" e outras coisinhas do género...

Uma vergonha.

Defreitas disse...

Custa acreditar no que leio. Filho de gente humilde, mas bom aluno, que trabalhava sempre para estar sempre entre os primeiros, nas duas escolas que frequentei em Portugal, encorajado pela disciplina do meu Pai, recordo ainda hoje, frequentemente, no dia 9 de Março, as duas vezes “que fui ao prémio” à Sociedade Martins Sarmento, por ter sido o melhor aluno do ano lectivo.

A primeira vez, na quarta classe da Escola de Santa Luzia e a segunda no ultimo ano do Curso Comercial da Francisco de Holanda.

Nunca esquecerei o meu orgulho quando levei para casa o prémio pecuniário João de Melo, de 20 escudos, que era o equivalente do salário de um dia de trabalho, creio eu, do meu Pai. E ainda hoje, nos meus 78 anos recordo com prazer essa tarde fabulosa.. Foi o dinheiro mais bem ganho da minha vida.

Anos mais tarde, após ter emigrado ,voltei para os estudos, no estrangeiro, estudos pagos pela minha firma, numa especialidade de engenharia na Universidade de Grenoble.

No fim do curso, quando obtive a formatura, lá pensei nos meus prémios de Guimarães .

O resultado permitiu-me fazer toda a minha carreira profissional, 34 anos, na mesma firma e ascender ao posto de Director Geral. Onde ganhei muito bem a minha vida.

Mas aquele primeiro” salário” recebido na Martins Sarmento, ainda hoje viaja na minha memória, nas noites longas onde o sono deixa o espirito evadir-se até às escolas da minha terra.

O vosso Ministro da Educação (?) , que estaria melhor no papel de Arpagon, do “Avarento” de Molière, nunca ressentiu ,de certeza , o que pode significar para um aluno o facto de ser reconhecido no seu valor, no seu trabalho e, mesmo se a soma não é importante, de ganhar o “seu primeiro” dinheiro graças ao seu mérito próprio.

A primeira vez que se reconhece que trabalhar bem, pode ser recompensado.

Cumprimentos

Freitas Pereira