19 janeiro, 2007

Pato Coxo?


PATO COXO?

















in "The Economist", 6 de Janeiro 2007



Há uma expressão que costuma designar um Presidente dos Estados Unidos nos últimos dois anos do seu segundo mandato, particularmente, como é o caso de George W. Bush, se não tem uma maioria favorável no Congresso: lame duck (pato coxo), significando que o seu poder e influência se encontram numa inexorável curva descendente por não poder concorrer a um 3º mandato e as atenções de políticos e eleitores já estarem centradas nas eleições que se aproximam e nos candidatos a ocupar a White House no quadriénio seguinte.

Essa expressão começou a aparecer nos media desde Novembro passado, quando a vitória dos Democratas nas eleições para o Congresso se somou à espiral de violência no Iraque.

Quer isto dizer que as previsões de que Bush vai passar os próximos dois anos crescentemente isolado e irrelevante em Washington?

No, not necessarily. Antes de mais, muito dependerá de como evoluir a situação no Iraque. Ao decidir avançar com a sua própria estratégia contra ventos e marés, Bush joga quase todo o seu capital político na Mesopotâmia. Se as coisas correram bem, ele será o único vencedor (bem, não o único: a dupla McCain/Lieberman também vencerá); se a situação não melhorar significativamente, a responsabilidade recairá sobre ele.

Há, no entanto, dois factores que jogam a favor de George W. Bush. Por um lado, o facto de já não disputar mais eleições, liberta-o de considerações tácticas de ordem eleitoral e pode aplicar apenas o seu julgamento. Não por acaso, os primeiros Senadores Republicanos a desertar são de Estados tendencialmente democratas e disputam eleições em 2008. Também por isso, e Bush valoriza muito as relações políticas assentes na amizade, lealdade e confiança, não irá preocupar-se demasiado com o destino político desses Senadores. Por outro lado, os Democratas estão longe de ter uma estratégia unificada, para além de não gostarem de Bush. Entre os que querem fugir do Iraque como o diabo da cruz, os que querem um calendário de retirada e os que têm ambições presidenciais e querem ter o apoio das bases do Partido Democrata, mas patentear uma imagem firme e responsável de estadista preocupado com a segurança nacional, dificilmente sairá um pensamento coerente, exequível e responsável para a política norte-americana no Iraque.

Excepto o lugar na História, George W. Bush é o único actor na cena política dos EUA que pode agir com despreendimento em relação ao seu futuro político. Essa vantagem pode ser decisiva, mas não será suficiente se a situação no Iraque não apresentar melhorias.


9 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Sabes o que penso do George W.
Creio que planeou muito mal o pós-guerra (apoiei a intervenção, inclusive em debates promovidos por associações de esquerda, um deles "contra" a Ana Drago...), com drásticas consequências para todos os participantes.
Depois, vejo-o pouco sagaz e de vistas cultas. Não é só o Presidente do PSD que tem de "ter mundo"(esta é com o nosso querido amigo Luís Cirilo - se calhar o George W., antes da presidência também só tinha ido ao México comprar Skip...).

Aliás, uma das minhas anedotas preferidas é a da notícia de que teria ardido a biblioteca presidencial de George W. Bush, destruindo os 2 livros que a compunham. O Presidente teria ficado devastado, pois ainda não acabara de colorir o 2º...

Rui Miguel Ribeiro disse...

Sei o que pensas, como tu sabes o que eu penso dele. Também apoiei a intervenção e concordo que o pós-Guerra foi pessimamente planeado e Bush é responsável, pelo menos por ter delegado na(s) pessoa(s) errada(s) para o elaborar e executar. Não obstante, também acho que houve coisas que correram mal e que dificilmente seriam previsíveis.
Posto isto, e estando onde estamos, eu acho que o caminho proposto por Bush é o melhor, com os caveats que referi no post. E para o bem de todos, espro que resulte...

P.S. Era mesmo "vistas cultas" que queria escrever, ou estás a ficar achinesado??? :-)

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ah! Esqueci-me de referir que também conheço a anedota e que também lhe acho piada.

Anónimo disse...

Vai ser bonito! Temos a guerra no Iraque e vamos ter a guerra em Washington entre o Presidente e o Congresso!
Cristina

Anónimo disse...

Isto são tudo jogos dos candidatos às eleições de 2008. Espero que não estraguem tudo à conta das suas ambições presidenciais.

João Manuel

Anónimo disse...

Parece-me que para "Pato Coxo" ele ainda se movimenta bastante bem! As coisas estão a aquecer no Iraque e no Afeganistão e os Democratas não parecem entender-se entre si.

José Manuel

Rui Miguel Ribeiro disse...

Cristina: Receio bem que seja isso que está prestes a acontecer. para já a "guerra" está confinada ao próprio Congresso entre Democratas e Republicanos e dentro das próprias fileiras democratas. Quando e se a maioria azul no Congresso se entender e fizer aprovar uma medida que seja gravosa para o esforço de guerra dos EUA no Iraque, então teremos "guerra" entre a Casa Branca e o Capitólio. It will be a shame.

Rui Miguel Ribeiro disse...

Ah João Manuel, e como as Presidenciais de 2008 já estão bem presentes no terreno e nas cabeças e atitudes dos candidatos e putativos candidatos. Basta olhar para o zig-zag de hillary Clinton para se perceber isso. É claro que a tendência será só para piorar. It is also a shame.

Rui Miguel Ribeiro disse...

José manuel: De facto os primeiros sinais do Afeganistão e do Iraque são animadores, mas já de outras vezes as coisas descarrilaram. De uqalquer modo, penso que se está a trilhar o caminho correcto. Resta saber se os autóctones concordam e se ainda se vai a tempo. É melhor adoptar a estratégia de wait and see.